Catopê – Variante
do Congo ou Congado no norte do estado de Minas Gerais.
(Luis Heitor, CULTURA POLITICA).
Catopês - Dentro
do nosso folclore, as Festas de Agosto são, sem nenhuma dúvida, a festa de
maior participação popular. Não se sabe precisar quando começaram. Mas o fato é
que a mais antiga notícia data de 23 de maio de 1838, quando Marcelino Alves
requereu junto à Câmara Municipal "licença para tirar esmolas para as
festas de Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo, que pretendia
fazer nessa freguesia". São, portanto, pelo menos 170 anos que os Catopês,
Marujos e Caboclinhos percorrem as ruas de Montes Claros, seguindo seus reis,
rainhas, imperadores, imperatrizes, princesas, etc., cantando, dançando e
louvando seus santos de devoção.
Nesses grupos estão representadas as três raças que
originaram o brasileiro. Os Marujos são de origem européia e narram às
aventuras dos marinheiros descobridores, Os Caboclinhos são os nossos índios. O
Grupo é formado em sua maioria de crianças. Falam das brincadeiras dos nossos
curumins. Os Catopês são de origem africana. E é sobre esses últimos que
desenvolveremos nosso trabalho.
A ORIGEM
Como foi dito acima, os Catopês são de origem africana. Os
negros, quando vieram escravizados, trouxeram consigo suas crenças e tradições.
Continuaram homenageando seus reis e cultuando seus deuses. Um desses reis foi
o famoso "Chico Rei", escravo na região de Ouro Preto, mas que era
príncipe em sua tribo africana. Aqui, os seus súditos e companheiros de
escravidão o fizeram rei e, de acordo com a tradição, comandava as festas de
culto a seus deuses. Chico Rei tornou-se célebre por ter, juntando aos poucos
ouro em pó que trazia das minas misturado aos cabelos, conseguiu comprar sua
própria liberdade. Uma vez homem livre, conseguiu ainda a liberdade de vários
de seus companheiros de infortúnio.
Na falta de um rei verdadeiro, elegiam alguém, entre eles,
para que os representasse e assim faziam o seu cerimonial.
Como aconteceu com a macumba, o candomblé, a umbanda, os
negros relacionaram seus deuses aos santos da Igreja Católica e passaram a
cultuar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
O CATOPÊ DE MONTES CLAROS
Embora da mesma origem dos Congados, Moçambiques e outros
similares de outras regiões, o nosso Catopé, talvez por ter ficado isolado dos
outros irmãos, com o tempo foi adquirindo características próprias, a começar
do próprio nome, Catopê, que seria o nome da dança ou do ritmo, como o batuque.
Os Catopês são um grupo de homens, a que chamam terno,
adultos ou crianças. Apenas de poucos anos para cá algumas mulheres têm
participado. Usam calças brancas, a camisa de manga comprida também branca. Na
cabeça, um capacete enfeitado com espelhos, aljôfares e miçangas. Deste
capacete, até quase ao chão descem fitas coloridas a larguras variadas. O
capacete dos chefes, além desses enfeites, traz no topo penas de pavão. Como
geralmente o capacete é feito pelo próprio Catopê, a sua aparência vai depender
inteiramente do gosto de cada um e do poder aquisitivo para compra dos adornos,
que na maioria é baixo. Mas, aquele cuidadoso, a cada ano, vai acrescentando
alguma coisa, mais umas fitas, mais aljôfar, etc.
No início, aqui em Montes Claros , o terno era composto apenas por
negros, mas, hoje em dia, não existe mais essa exclusividade, ao contrário do
que acontece em outras cidades, como Minas Novas, por exemplo, onde existem
duas congregações, a dos Homens Negros e a dos Homens Brancos.
Atualmente, temos aqui em Montes Claros três
ternos de Catopês. Dois de Nossa Senhora do Rosário e um de São Benedito.
A MÚSICA
A música do Catopê é melodicamente pobre, predominando o
ritmo, tanto que o seu instrumental é exclusivamente de percussão. São
tamborins, pandeiros e caixas, em geral fabricados por eles mesmos, usando
couro de cabrito.
Cantam sempre sob o comando do mestre, que canta uma estrofe
e todo o grupo responde. Apesar da pouca musicalidade, a riqueza do ritmo e o
arranjo dos instrumentos dão um efeito de rara beleza e emoção.
A FESTA
Antigamente, as Festas de Agosto realizavam-se nos dias 16,
17 e 18 de agosto. Aliás, começavam no dia 15, com o mastro de Nossa Senhora do
Rosário. Dia 16, pela manhã, o desfile do Reinado de Nossa Senhora do Rosário
e, à noite, o mastro de São Benedito. Dia 17, pela manhã, o Reinado de São
Benedito e, à noite, o mastro do Divino. Dia 18, pela manhã, o desfile do
Império do Divino. Um detalhe é que nos dias de Nossa Senhora e de São Benedito
desfilavam um rei e uma rainha. Já na festa do Divino, era um imperador e uma
imperatriz.
Atualmente, faz-se a festa no fim de semana mais próximo a
essas datas, a fim de facilitar para os participantes dos grupos, geralmente
pessoas de baixa renda, operários que têm dificuldade de justificar a falta ao
trabalho.
Nos desfiles dos reinados, os Catopês e os outros grupos
conduzem o rei e a rainha - acompanhados de princesas, príncipes, damas da
corte, etc. - até a Capela de Nossa Senhora do Rosário, onde é rezada a missa,
com a participação dos grupos. Em seguida, é servido o almoço para todos os
participantes. Este almoço é de responsabilidade dos pais do rei e da rainha,
ou do imperador e da imperatriz.
Aqui tem um detalhe que diferencia bastante o nosso Catopê
dos Congados de outras cidades. Nos Congados, o rei e a rainha são sempre
negros e adultos. Pessoas ligadas diretamente aos ternos. Em Montes Claros , são
sempre crianças, independente da raça, sorteadas entre as famílias que se
inscrevem pleiteando a realização da festa. Geralmente em cumprimento de
promessas.
Tive certa vez uma explicação a respeito de tal diferença,
ou seja, porque crianças - a maior parte brancas - e não adultos negros. A
justificativa é a seguinte: essa festa era exclusiva das senzalas. Apenas os
escravos participavam. Acontece que era costume, não só aqui como em todas as
partes, a mãe-preta, uma escrava que amamentava os filhos do senhor. Para essa
função era sempre escolhida uma mulher de boa saúde e de boa índole, em quem os
patrões pudessem confiar suas crianças. E sempre acontecia que essa escrava,
pelo fato de alimentá-las com seu leite, acabava por se sentir meio mãe,
apaixonada e dedicada ao "sinhozinho" ou à "sinhazinha".
Dizem que numa época, uma criança filha de um fazendeiro
adoeceu, doença grave. Tentou-se os recursos médicos da época sem resultados.
Foi quando entrou em cena a mãe-preta, desesperada com a quase certeza da perda
do "filho". Diz aos pais da criança que ia fazer uma promessa a São
Benedito, pedindo pela vida do menino e que, se ele se salvasse, sairia como
rei na festa dos escravos. Os pais, que a essa altura já estavam recorrendo a
qualquer coisa que lhes desse uma esperança, aceitaram o compromisso. O fato é
que a criança começou, logo em seguida, a sentir melhoras e, em poucos dias,
estava inteiramente sã. O pai cumpriu a promessa da escrava e, ano seguinte,
pela primeira vez, um menino branco foi o rei na festa dos negros.
A notícia do milagre correu. A partir daí é que houve a
mudança. A festa saiu da senzala. Os patrões passaram a participar e a
promovê-la. Sempre pagando promessa feita a Nossa Senhora do Rosário e a São
Benedito, tradição que até hoje é mantida.
(Virgilio Abreu de Paula, CATOPÊS DE MONTE CLAROS).
Rugendas |
Modinha – É um
diminutivo de Moda, tipo mais antigo da Canção Portuguesa, cuja denominação
coexiste no Brasil, com aquela: Moda de Viola, Moda Paulista, etc... está na
índole da língua e na tradição dos Compositores esse emprego do diminutivo; o
mesmo ocorre com Fado e Fadinho, Polca e Polquinha, Tango e Tanguinho, Choro e
Chorinho etc... a diversificação entre Moda e Modinha ocorreu em Portugal, no
século XVIII, logo seguida por uma outra distinção perfeitamente definida; a
Modinha Portuguesa e a Modinha Brasileira. A esta dizem respeito as restrições
moralistas acima referidas. Apesar disso, eram cantadas nos melhores salões de
Lisboa; e os Escritores que observaram a Música Portuguesa no tempo, sempre
destacam a Modinha Brasileira, pela qual manifestam preferência. A comparação
entre os documentos existentes hoje em dia prova cabalmente essa distinção
entre os dois tipos de Modinhas. E mesmo no Brasil foram freqüentemente
cantadas as Modinhas Portuguesas, de fina melodia mais singela, estabilidade
tonal e modal maior, isto é privadas daquilo que fazia o encanto das
Brasileiras e que já era um traço inconfundível de caracterização nacional.
Efetivamente, Martius, referindo-se ás Modinhas Brasileiras que ouviu em nosso
pais, no começo do século passado, diz que elas “conservam integralmente o
sabor popular e denunciam de vez em quando o pathos verdadeiramente lírico de
poetas quase sempre anônimos”. Outro ponto divergente entre Modinhas
Portuguesas e Brasileiras é o canto a duas vozes, empregado com freqüência
pelas primeiras e nunca pelas nossas.
(Luis de Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO,
pags. 403 e 404, Rio de janeiro – 1954).
Samba-Chôro – “Os
Músicos, na sua maioria, faziam pontos nas Casas de Música na Rua dos Ourives,
50 de propriedade de Buschmann e Bevilacqua; no Moreira, á Rua Gonçalves Dias;
no Cavaquinho de Ouro, á Rua da Carioca, e na Rabeca de Ouro, na mesma Rua. Nos
botequins, encontravam-se, freqüentemente, os malandros chorões, cantando
Modinhas e assobiando ao ouvido de outros entusiastas do Chôro.
Findo
o baile, alta madrugada, o Chôro saiá tocando uma Polca dengosa e o pessoal
mergulhava no primeiro botequim que encontrava aberto. O Português gorducho
dono do estabelecimento já sabia e perguntava logo: “então, o que vai? uma
gemada com vinho do Porto ou uma boa misturada?” cada um escolhia a bebida de
sua predileção, havendo quem preferisse o rabo-de-galo, que era uma misturando
Parati, mel de abelha e canela. E o Chôro continuava. O sol invadia o botequim
e a flauta se fazia ouvir acompanhada do cavaquinho, do violão. O botequim
enchia-se de Seresteiros que vinham de outros Forrobodós e o Chôro continuava
até 9, 10, e 11 horas”.
(Alexandre Gonçalves Pinto, O CHÔRO “Reminiscências dos
chorões antigos”, Rio de Janeiro – 1936).
Foto Ana Maria |
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