Rua da Festa!
"O Recôncavo baiano é a região geográfica localizada em torno da Baía de Todos-os-Santos, abrangendo não só o litoral mas também toda a região do interior circundante à Baía.
Geograficamente, o Recôncavo inclui a Região Metropolitana de Salvador, onde está a capital do estado da Bahia, Salvador e outras cidades circundantes à Baía de Todos os Santos, entre elas, as de maior representatividade histórica e econômica são: Santo Antônio de Jesus, Candeias, São Francisco do Conde, Madre de Deus, Santo Amaro,Cachoeira, São Félix, Maragojipe e Cruz das Almas. Entretanto, o termo Recôncavo é constantemente utilizado para referir-se às cidades próximas à Baía de Todos os Santos, limitando-se ao interior, ou seja, excetuando-se a capital do estado, Salvador."
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rec%C3%B4ncavo_baiano ).
Estamos em Terras Brasileiras, cidades berço do Recôncavo Baiano. Registros no Rua da Festa, em nossas caminhadas com a Mala do Folclore descobrimos os ritmos Cucumbí, Bendeguê, Bendito-Caboclo.
Cucumbi –
Descendo a Rua do Rosário, pela altura da dos Latoeiros, caminho do Terreiro do
Paço, a tropilha folgaz dos negros vem cantando, a dançar, ao som de adufos,
caxambus, xequerês, marimbas e agogôs, seguida, açulada, aplaudida pelo poviléu
gárrulo e jovial que com ela faz mescla e se expande feliz. Nunca se viu na rua
tanto negro! São negros de todas as castas e todas as ralés, despejados pelas
vielas e alfurjas em redor, atraídos pelo engodo da folia: gongos e
mocambiques, monjolos e minas, quiloas e benguelas, cabindas e rebolas, de
envoltas com mulatos de capote, com ciganos e moleques, a turbamulta dos
quebra-esquinas, escória das ruas; flor da gentalha e nata dos amigos do banzé.
O reboliço cresce, referve, explode, continua... nos interiores das casas, a
famulagem, ouvindo fora os ruídos das musicas, desencabrestada e cadente,
abandona o trabalho, deserta das cozinhas, vara corredores, derribando móveis,
batendo portas, saltando janelas, caindo na rua... não há escravo que atenda
amo, que obedeça a senhor nesse minuto de desabafo e embriaguês. É uma loucura!
O que ele quer. O negro, é aturdir-se na folia, mergulhar na folgança,
integralizar-se no ritmo do Samba, fazendo um pião no tronco, e das pernas dois
molambos, que se confundem em delírio coreográfico. É um desengonço macabro, em
que a gente sente o negro desanatomizar-se todo, desarticulando braço, cabeça,
pé, perna, pescoço e mão. Isso tudo aos guinchos, aos assobios, aos berros, aos
áia! Oia! Eia!
São as Congadas...
(Luis Edmundo (L.E. de Melo Pereira da Costa). O RIO DE
JANEIRO NO TEMPO DOS VICE-REIS 1763-1808, Pag. 185, Rio de Janeiro – 1932.
Cucumbi - O
Cucumbi não passava de uma recordação das festas africanas, é certo mas foi-me
impossível conhecer a significação própria do vocábulo. Compunha-se de numeroso
agrupamento: uns armados de arco e flecha, capacete, braços, pernas e cintura
enfeitados de penas, saiote e camisa encarnada, corais, missangas e dentes de
animais no pescoço, à feição indígena.
Outros, porém, trajavam corpete de fazenda de cor, saieta de
cetim ou cambraia, com enfeites de velbutina azul e listras brancas, num estilo
bizarro, acomodado ao divertimento.
Os instrumentos consistiam em pandeiros, ganzás, checherés
ou chocalhos, tamborins marimbas e piano de cuia (cabaça enfeitada com contas).
Os Cucumbis ensaiavam as suas diversões em determinados
pontos, como fosse: largo da Lapinha, Terreiro de Jesus e largo do Teatro, sob
as frondosas cajazeiras que aí existiam.
No trajeto iam cantando:
Viva nosso rei,
Preto de Benguela
Que casou a princesa
C'o infante de Costela.
Respondia o grupo indígena:
Dem bom, dem bom,
furumaná;
Catulê, caia montrué
Condembá.
Além dos instrumentos acima indicados, certos personagens
conduziam os seus grimas os quais no final de cada estrofe se cruzavam dois a
dois.
O bi iáiá, o bi ióió,
Saravudim, sarami, saradô.
Ao pronunciarem a silaba dô era o som abafado pelo choque
dos grimas, batendo uns de encontro aos outros. Em seguida, davam voltas e
trejeitos ao corpo, repetiam o canto e os mesmos movimentos.
Chegados ao ponto determinado, começava a função:
Cum licença auê
Cum licença auê
Cum licença de Zamblapongo,
Cum licença auê.
Em meio da festança, um indígena era acusado de haver
enfeitiçado o guia, que devido a essa cirscuntância, se achava em estado
mortal.
Discutido o assunto com alacridade, o feiticeiro se
entusiasma e canta em tom autoritário:
Tu caté gombé
Tu está gombê.
Chaco chaco,
Mussugaué.
O diá sambambê:
Matê, ô matê ô!
Vida ninguém dá.
Compenetrado do seu valor, e solicitado para mudar de
resolução, o feiticeiro se delibera a curar o guia, que simula agonizante.
Para isso, no meio de grande algazarra, toma de uma bolsinha
e com ele toca levemente as pernas e os braços do doente, dando movimento
desordenado ao corpo, entoando cantigas lúgubres. Ao depor a bolsinha ou
contra-feitiço nos lábios do guia, este recobra os sentidos, e todos se
entregam às maiores expansões de regozijo. Os nacionais se afeiçoaram tanto ao
Cucumbi que conseguiram imitá-lo vantajosamente, intercalando nos cânticos
vocábulos da língua vernácula, sem, contudo, desvirtuá-lo.
(Manuel Querino, "CUCUMBIS”. A Tarde. Salvador, 04 de
julho de 1957).
Carybé |
Bendenguê –
Jongo, dança de negros da costa, ao som da puíta e cantigas africanas, espécie
de Bangulê.
(Macedo Soares)
Bendito-Caboclo –
Canto religioso com que são acompanhadas as procissões e, outrora, as visitas
do santíssimo. Denomina o gênero o uso da palavra Bendito, iniciando o canto,
uníssono
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO,
pag. 97, Rio de Janeiro – 1954).
Bendito-Caboclo -
“Há uma certa influência francesa, ou melhor, o aproveitamento dos Benditos
franceses, com o popularíssimo Queremos Deus, que é o Nous Voulons Dieu, de
F.M. Moreau”.
(Renato Almeida, HISTORIA DA MÚSICA BRASILEIRA, pag. 132).
E assim Amigos da Música Folclórica Brasileira deixamos nossa alegria com vocês e nos encontraremos em breve, com mais pérolas de nosso Povo Brasileiro. E a Mala do Folclore prepara mais novidades. Estamos em nosso endereço sonoro :
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