Boa Viagem amigos! estamos chegando lá. A Mala do Folclore deixa saudades, brinda e apresenta os ritmos Terno, Afoxé e Samba-Chula.
Foto by Ana Maria |
TERNO - "O
Terno das Almas é uma manifestação que ocorre durante o período da quaresma e
trata-se de um ritual realizado pelas mulheres, em sua maioria, que se cobrem
com um lençol branco e a noite percorrem as trilhas e becos do povoado para
cantarem seus mortos. É utilizado um instrumento percussivo de madeira chamado
Matraca que tem a função de acordar os mortos para que ouçam os Benditos que
são cantados. O Terno sai as ruas nas segundas, quartas e sextas feiras e fazem
três estações em locais diversos do povoado. Alí eles cantam e rezam. Durante
23 anos o Terno das Almas tinha desaparecido das manifestações locais, sendo
resgatado a partir do ano de 2003 quando propus de ex devotos se reunissem para
reativá-lo, caso fosse o desejo daquelas pessoas, o que prontamente
aconteceu."
(Marcos Zacaríades, TERNO DAS ALMAS, Igatú – Bahia.)
TERNO – (...) Nos
lugares onde não havia oratórios de pedra, via-se, como ainda hoje, cruzes em
alto-relevo ao longo dos muros, pintados de preto no exterior das casas
particulares e nas portarias de velhas igrejas, ou então cruzeiros de granito
ou de madeira, no centro das praças, nas encruzilhadas dos caminhos á
distancia, nas estradas e ruas...
O que
significava eles no silencio estrelado da noite, nas solidões a desoras,
dominando misteriosos na maravilha do vácuo?
Eram
as Cruzes das Almas; o aprisco lúgubre dos penitentes da meia noite; o ponto de
partida das Serenatas horríveis, cujos ecos iriam minorar os suplícios do fogo
purificador.
Invariavelmente pela Quaresma celebrava-se o rito popular das
Encomendações, obrigadas á música, acompanhadas de solos e coros.
Dizem mesmo que para esses atos, compositores afamados concorriam com
produções geniais, intercaladas de frases que imitavam soluços, enriquecidas de
transições mal sentidas, de menos para maior, cujo efeito não podia ser mais
plangente e infernal.
Às
sextas-feiras, ao pingo da meia-noite, quando as cidades e povoados estavam
ermos quando os lobisomens, as caiporas e as mulas-sem-cabeça corriam o fado,
soava nos ares o troar da matraca e o badalar da campa sinistra, que anunciavam
o préstito em movimento.
De
repente, ao afinar derradeiro dos instrumentos percebia-se bem longe – à porta
das igrejas, ou lugar convencionado para a reunião – vultos amortalhados de
branco, com a cabeça coberta, deixando apenas ver a boca e os olhos,
esclarecidos por pequenas lanternas de papel ou folha-de-flandres, com a luz voltada
para o rosto.
Alguns, muitos mesmo tocadores de flauta, violoncelo, rabecas, etc.,
juntava-se aos Cantores, que os alumiavam, desenrolando músicas escritas.
A
um momento dado, findos os preparos os Encomendadores das Almas desciam lentos
de sua soturna estância; e, rompendo a marcha, a campanhia vibrava metálica, a
matraca batia, a procissão desfilava, tétrica, pavorosa e de fazer arrepiar os
cabelos.
Constava da tradição que só homens podiam tomar parte nessas romarias em
favor dos condenados de além-túmulo; sendo proibido, sob pena de morrerem
assombradas, as mulheres e crianças, afrontar o preceito lendário.
E
a Serenata da morte, escoltada de supertições e de duendes, começava os seu
noturnos as suas Capelas cantadas, prolongando-se até mais de uma hora, fazendo
estações aqui e ali, difundindo o pavor e o medo em seu trânsito incerto e
cheio de assombro.
Adiante, vagaroso, cadenciado, de cabeça erguida, o portador da Cruz das
Almas seguia imperturbável, entre dois indivíduos cabisbaixos, envergando
idênticas vestiduras e amparando as luzes das velas metidas em cartuchos de
papel: logo após o homem da campainha, tangendo-a compassadamente, sacudia ao vento
a manga ondulante de sua túnica de morim, que recebia nas trevas o reflexo
rubro das lanternas acesas...
E a
procissão passava!... passava!...
Sendo da crença popular que ninguém podia abrir as janelas e as portas para
ver a tétrica Passeata, pois que além de cometer gravíssimo pecado, morria de
medo, visto como as almas faziam parte da comitiva, a solidão estendia-se em
seu trânsito e circulava o ambiente envolto em trevas medrosas e profundas.
Aos
fantásticos personagens que iniciavam o préstito, sucedia um outro que entoava
com voz cavernosa, lúgubre e com que saída de um túmulo, as Lamentações do
estilo, admiráveis trechos musicais dos Compositores da terra.
Depois vinha o resto – os devotos menestréis das almas, envoltos em suas
roupagens de neve, com buracos para os olhos e a boca.
E a
matraca, batida, troava... a campa, agitada com violência, formava uma abòbada
funebremente sonora
De
escutá-las as crianças e as mulheres, os moradores das casas vizinhas e
longínquas, despertavam: ouvia-se choro, preces, rumores...
E a
procissão passava!... passava!...
Eis
senão quando a matraca e a sineta emudeciam, os tropéis aquietavam-se, e o
silêncio crescia mais taciturno e misterioso...
Um
vulto tomava a frente; no mesmo instante, os instrumentos davam afinação
tocavam á surdina; e o violoncelo, por exemplo começando a Capela noturna,
gemia sob os dedos inspirados do artista, soluçava dolorosamente, produzindo
sons despedaçadores.
E
aquela espécie de alma penada, aquele indivíduo isolado dos seus companheiros –
o Baixo-Profundo - , entoava silábica e monotonamente a cruel e pavorosa
Lamentação:
“Pe-ca-dor-em-du-re-ci-do!!...”
A
impressão que isto produzia era horrível; não pode imaginar o efeito
sobrenatural dessas composições especiais sobre espíritos fracos e de
credulidade exagerada.
Depois os demais músicos acercavam-se da figura principal e, seguindo,
bradava um Cantor:
“Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos presos da cadeia!...”
E
todos rezavam cantando, na persuasão de que os ouvintes, encerrados em suas
casas, o faziam também.
“Um Padre-Nosso com uma Ave-Maria por alma dos afogados!...”, prosseguia
um outro, apenas terminava a reza, e assim por diante...
Em
caminho, sucedia reunirem-se a estes, penitentes que surdiam daqui e dacolá,
vestidos de saias de mulher, coroados de espinhos e com as costas nuas, sobre a
quais faziam vibrar férreas disciplinas, acoitando-se á sangue.
E
a procissão passava!... passava!...
Junto a um oratório aceso ou Cruzes de Almas, o préstito fazia alto,
espevitavam-se as velas das lanternas esbraseadas, e as Lamentações, os
Padre-Nossos, Ave Marias e Salve-Rainhas eram de novo cantados, em tons
fúnebres e pesados com o estouro das vagas nas praias desertas.
Este espetáculo terrível, que impedia de respirar livremente, que
povoava de sobressalto e terrores os sonhos infantis e a crendice popular,
findava sempre aos primeiros cantos do galo...(...).
(Melo Morais Filho, FESTAS E TRADIÇÕES POPULARES DO BRASIL,
pags. 193 a 197, Rio de Janeiro-1946).
AFOXÉ - O
primeiro Grupo de Afoxé surgiu em 1895 em Salvador, mostrou publicamente
aspectos dos ritos do Candomblé. Em 1897, outro grupo saiu as ruas com o Enredo
“As Cortes de Oxalá”. Em 1922 já estruturado e participando do Carnaval, veio a
temática dos Orixás, encontramos então o Afoxé Papai da Folia. Ainda em 1897
“Clube Pândegas de Àfrica” e os africanos com muita alegria dançando, tocando e
cantando tomaram conta das ruas e assim externou, os clubes vistosamente se
apresentavam, recolhendo aplausos e saudações dos seus adeptos numerosos. A
Embaixada Africana e os Pândegos de África, já apreciados do nosso público,
porquanto desde uns três anos disputavam-se a palma nessas festas. Depois só
voltaram a sair em 1929 e o jornal A Tarde, de 9 de fevereiro daquele ano
relata a sua volta: ”Abrira o préstito uma grande filarmônica trajada a caráter
exercitando seus clarins e fanfarras as mais típicas marchas Africanas”. Outros
grupos de Afoxé, como Otum Oba de África, Congo de África mantiveram a força
dos costumes lúdicos negro-africanos na Bahia. No Rio de Janeiro, aos 12 de
agosto de 1951 é instalado o Afoxé Filhos de Gandhi/RJ. Esta agremiação está
baseada na vivência dos seus fundadores em outros grupos de Afoxés: Pândegos de
África, Otum Obá de África, Papai da Folia, Congo de África e o próprio Filhos
de Gandhi de Salvador deram os subsídios e os fundamentos do grupo carioca, que
representa no Carnaval do Rio de Janeiro as mais significativas lembranças dos
costumes Afro-Baianos. Afoxé Olodumaré, surgiu no interior do Terreiro Nosso
Senhor do Bonfim, verdadeira sede do Afoxé. Sai no domingo, segunda e
terça-feira. Segunda-feira dia consagrado a Exu. Ele é o patrono deste Afoxé.
Afoxé no Ceará ligado aos Maracatu Reis de Paus e ao terreiro de Candomblé
Nosso Senhor Do Bonfim, ritos Gêge e Nagô. Filhos de Gandhi, Salvador e Rio de
Janeiro: há diferenças acentuadas observadas nesses dois grupos de Afoxé. Cada
um passou assumir uma personalidade própria apesar dos fortes elos que unem
ambos Afoxés. O de Salvador, o patrono é Xangô por isso dança com uma
frigideira em chamas apoiada na cabeça ao toque de Alujá. Foi fundado em 1949.
O Gandhi do Rio, o Gexá é ouvido. Cantam para os Orixás. Desfilam no sábado.Um
outro Afoxé surgiu há 30 anos em
São Paulo fundado pelo Ogan Gilberto de Esú e Iá Wanda e
amigos ligados a família, é o Afoxé Omo Coroa de Dada, Casa Verde, São Paulo, e
no Carnaval de 1977 fez sua 1ª apresentação no Carnaval nas ruas do bairro,
hoje faz a abertura oficial do Carnaval Paulista e está há 26 anos no
Sambódromo. Hoje em dia encontramos um grande número de Afoxés que divulgam e
resgatam a cultura Afro-Brasileira, abrilhantando os Carnavais de diversas
cidades com muita alegria e energia positiva, preservando assim a Cultura
Afro-Brasileira.
O QUE É AFOXE ?-
Afoxé é um Cortejo de rua que tradicionalmente sai nas ruas durante o Carnaval
de Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo e demais localidades. Esta
manifestação tem aspecto místico, mágico e por conseguinte, religioso. Em 1895,
em Salvador o primeiro Afoxé mostrou publicamente aspectos dos ritos do
Candomblé. Antes se falava no Maracatu, não existia o Afoxé propriamente dito, e
o Cortejo era chamado de Afoxé de África. Por isso também é conhecido e era
chamado por Candomblé de rua, hoje se fala em Afoxé: grupo Afro-Brasileiro
Folclórico cultural, carnavalesco de origem afro-descendente (Africana) oriundo
do Candomblé no Brasil. Apresenta em seu contexto elementos ligados a
religiosidade dos africanos aqui no Brasil. Para estes adeptos é quase uma
obrigação levar este Axé (energia positiva) para o conhecimento do público e para
locais onde desenvolve-se a Cultura com ou sem vínculo com a religiosidade. Os
enredos têm fundamentos das religiões negras no Brasil, enredos esses vindos
das estórias, explicam e instruem sobre os Orixás, seus domínios e funções.Todo
grupo de Afoxé tem suas cores e patronos. Os instrumentos básicos do Afoxé são:
Xequerês, Maracás, Atabaques e Agogôs, todos tocados no ritmo Ijexá. Afoxé
também é o nome de um instrumento que se constitui de uma cabaça (fruto
vegetal) coberta por rede contendo sementes ou contas. Os instrumentos mais
antigos eram feitos com redes de algodão, contendo búzios nos encontros do
traçado. O Afoxé passou por modificações, quanto a forma do instrumento e
maneira de percutir. Tradicionalmente o Afoxé é percutido agitando o que
fricciona no corpo da cabaça, assim produzindo os ritmos. Com o advento do cabo
preso na cabaça, a fricção passou a ser realizada na palma da mão do
instrumentista. Além da festividade carnavalesca, o Afoxé tem o compromisso de
resgatar e divulgar a Cultura Afro-Brasileira, levando á comunidade informações
culturais e a oportunidade de conhecer suas raízes.
OBJETIVOS DO AFOXÉ
- O Objetivo do Afoxé é levar o Asè (Energia Positiva) para o conhecimento do
público e para locais onde se desenvolve a Cultura com ou sem vínculo com a
religiosidade. O Afoxé Niza Nganga Njungo de Juiz de Fora - MG, possui um Grupo
Gestor independente e soberano, formado por pessoas idôneas e radicadas em
nossa cidade, cuja função prioritária é dar vida e consistência às atividades
culturais, visando a convivência e conscientização comunitária, buscando
diminuir a exclusão sócio cultural através de palestras, oficinas arte
educativas, ensaios e apresentações públicas integrando todos membros da
comunidade. A colaboração com a Cultura vai além de sua existência como Bloco.
Desta forma articulamos ao longo do ano, palestras, oficinas, apresentações e
rodas de bate papo para levarmos mais informações da Cultura Afro (Afoxé) à
Sociedade.
(Jaques “Tata Axexerê”, AFOXÉ NIZA NGANG NJUNGO, Juiz de
Fora – MG.).
AFOXÉ – Rancho
negro do carnaval. Os negros se trajam principescamente e cantam Canções em
língua africana, geralmente em
Nagô. O mais notável desses Ranchos é o Otum, Obá de África,
com sede no Garcia. Têrmo ás vêzes empregado para designar Candomblés de
qualidade inferior.(Edison Carneiro, CANDOMBLES DA BAHIA, 115-116, Bahia,
1948).
Festas profanas de caráter público, nos Terreiros do culto Jeje-Nagô.
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO,
pags.17, Rio de Janeiro – l954).
Carybé |
SAMBA-CHULA – No
Samba de Roda, existem muitas variações sobre as Cantigas, que possuem nomes
diferentes a depender do local. Na Ilha, em Salvador e municípios próximos,
predomina o Samba Corrido, e as influências urbanas. O Samba Chula
característico, também chamado Samba de Viola e Samba Amarrado, se encontra na
antiga região da cana que abrange Maracangalha, São Francisco do Conde, Terra
Nova, Teodoro Sampaio, Saubara, Santiago do Iguape e principalmente Santo
Amaro. Uma dupla de cantadores canta a Chula e a outra dupla e o coro das
mulheres responde com o Relativo, sendo um verso menor que “arremata” a Chula.
Nessa hora, ninguém entra na roda para sambar, esperando os homens terminar de
cantar e começar a parte instrumental com solos de viola e da percussão. A
sambadeira agora samba com passos miudinhos, “peneirando” e percorrendo a roda
toda, até dar uma umbigada para outra sambadeira, que espera até a próxima
Chula cantada.
As Chulas são miniaturas poéticas que tratam dos assuntos da vida,
contando pequenas histórias, relatando conflitos e as complicações da paixão,
retratando aspectos do cotidiano e dando conselhos, alertas e “sotaques” para
quem precisa ouvir. Os grandes temas cantados são ligados ao universo amoroso,
ressaltando a visão do homem sobre a mulher, falam do próprio Samba, dos
acontecimentos na roda e da viola, por estabelecer uma ligação forte entre os
homens tocando e as mulheres sambando. Muitas Chulas retratam a vida do
trabalho, na roça, na cana, no mar e no mangue, ás vezes com uma conotação do
sofrimento do “penar” que remete aos tempos da escravatura. Um contraste para o
lado pesado da vida, são as Chulas lúdicas e eróticas, contando piadas e
conselhos irônicos, pequenas parábolas, satirizando situações sensuais e
tragicômicas da vida. Outro aspecto é a vida religiosa nas Chulas que cantam
dos santos católicos, dos orixás e caboclos nas religiões afro-brasileiras,
muitas vezes falando em metáforas.
Na outra margem do Rio Paraguaçu, nos municípios de Antonio Cardoso,
Santo Estevão e Rafael Jambeiro, a Chula é chamada de Coco e o Corrido chamado
de Chula. O Samba se caracteriza por ser um Samba de Desafio, cheio de riquezas
poéticas que retratam o universo regional com sutileza, humor e variedade
literária. Entre os sambadores antigos, Samba é coisa séria, assunto de homens
brabos que se desafiam com palavras afiadas e ritmadas, levando noites inteiras
nessas disputas que renderam muitas lendas em toda região.
(Katharina Döring, “A CHULA NO SAMBA DO RECÕNCAVO”, notas da
contra-capa do CD e DVD, CANTADOR DE CHULA, Salvador – 2009).
Até breve queridos amigos, fiquem conosco em nosso endereço :
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