- O
Terreiro -
O Conde
Dos Arcos
Quer saber...
Quem é, á Zeferina.
Mandou, saber
No cais...
No Terreiro...
E no Cabula.
Zeferina...
É da Costa do Dendê
É negra malê
Do Quilombo do Urubu.
Matias Moreno. O TERREIRO. Álbum: Lagoa da Onça. “Ana Maria
& Matias Moreno”. Bahia – 2022.
- PROGRAMA -
Samba-Chula – Escravos músicos são sempre referidos em
cronistas ou viajantes do período colonial e dos primeiros tempos do Brasil
independente; músicos não apenas isoladamente, como também formando orquestras.
Um anúncio de jornal carioca de 1819 oferecia á venda um escravo próprio para
bolieiro, “que sabe tocar piano e marimba e algum coisa de música”. De bandas
de música, além de que acima já se referiu, outras informações encontra-se
ainda, com referência, por exemplo á Bahia; a fazendeira Raimunda Porcina de
Jesus mantinha em Feira de Santana uma banda de música composta de escravos,
dispondo de bom instrumental e de grande variedade de repertorio.
Não se
esqueçam também as bandas de barbeiros, que, segundo o registro de Melo Morais
Filho, eram compostas de escravos negros que ensaiavam e tocavam dobrados,
quadrilhas e fandangos, havia-os por toda parte: na Bahia, em Minas Gerais, no
Rio de Janeiro, em Pernambuco.
Datam
dos meados do século XVIII as informações mais constantes sobre os grupos de
barbeiros, como banda de música, embora saiba-se que antes daquela época já
deviam existir, era uma instituição que se tornou popular, que, de modo geral,
se espalhava por todo Brasil. Na Bahia esses músicos eram conhecidos como
“terno de barbeiros”, e segundo Manuel Querino tocavam nos festejos da Lavagem
do Bomfim.
Não era de estranhar a participação do negro,
mesmo como escravo, em bandas e orquestras. O negro era por natureza musical e,
sobretudo, cantador. Cantavam os escravos em todas as oportunidades: no
trabalho do eito, não raro com cantos especiais para a manhã, o meio-dia e a
tarde. Afora os cantos de trabalho na lavoura, havia os cantos de festas em
bailados e festejos; cantavam carregando fardos ou piano, ou vendendo qualquer
mercadoria; cantavam o fandango, o lundu, a chula, os vissungos – estes no
final das refeições, passando inclusive a influir nas festas de branco e em
quase toda a população. E esta influência – a do negro na música – iria
prolongar-se não apenas com sua participação em atividades de cantos, mas
igualmente na formação das escolas de samba, onde o elemento negro teve um
papel importante.
Manuel Diegues Junior. A AFRICA NA VIDA E NA CULTURA DO
BRASIL. Págs. 19 e 20. Revista do Iphan nº 25 – 1997.
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