Agora aos descansos, estamos fechando nosso Mapa. Pois adensaremos nossas informações junto com a Mala do Folclore que continua surpreendente e nos presenteia com o frescor melodioso das Folias e Ritmias, e a suave brisa nas poesias do Folha da Mata. Aproveitemos os ritmos Samba-Jongo, Marchinha-Caipira, Congada.
SAMBA-JONGO – (...) “De origem africana o Jongo mantém para
os seus grandes bailadores a fama de feiticeiro, sabedores de segredos
mirabolantes e poderes mágicos. O Jongo é cantado por um ou mais solistas, e
respondido o refrão pelo côro. Os tambores têm nomes de Tambu, Candongueiro e
Gazunga, ocorrendo a Puíta e a Angóia, cestinha de vime com caroços ritmando e
bailando.
(Alceu Maynard Araújo, DOCUMENTÁRIO FOLCLÓRICO PAULISTA,
pags. 31, São Paulo – l952).
MARCHINHA-CAIPIRA – Moças sentadas em bancos toscos,
conversa com rapazes. Vão se levantando uma a uma, em atitude habitual, nascida
do acanhamento típico dos nossos caboclos. Os pares se dispõem em grande roda,
formação simples e primitiva. Para o centro da mesma convergem ora damas, ora
cavalheiros, inspirados, talves, na ascenção dos rojões que, geralmente, animam
as festas rurais, algumas damas mais decididas dançam em solo no meio da roda,
ao som de palmas repicadas dos cavalheiros.
Umas
movimentam-se mais simplesmente, outras com maior desembaraço e graça, tirando
o chapéu de um cavalheiro e dançando com ele ou dando a alguém a flor de seus
cabelos, para buscá-la depois, com receio dos comentários... seguem-se figuras
em que os pares movimenta-se de braços dados, com frentes opostas ou não. Como
na Quadrilha, na Cana-Verde ou no Côco. Após, damas contornam os cavalheiros
enquanto estes giram no lugar para depois acontecer o inverso, com se vê
universalmente. Há durante a dança palmeado e sapateio à semelhança do
Cateretê. Fandango, Recortado. Para encerrar, a dama gira embaixo do próprio
braço, lentamente, o mesmo faz o cavalheiro, a moda gaúcha, e sem desfazer a
roda. Todos dão a frente para a assistência e apóiam o calcanhar no solo, num
gesto familiar.
(Maria Amália Corrêa Giffoni, DANÇAS FOLCLÓRICAS
BRASILEIRAS, “e suas aplicações educativas”, pags. 327, São Paulo – 1964).
Rugendas |
CONGADA – Congos, Congados, Congadas. Autos brasileiros de
assuntos africanos, especialmente reminiscências da rainha Njinga Mbandi de
Angola, falecida a 17 de dezembro de 1663. O tema essencial é a Embaixada da
rainha Ginga a um potentado negro. Às vêzes Henrique rei Cariongo, nome que
recorda uma das circunscrições de Luanda, e que outrora foi sobado
independente. O enredo referir-se-ia a uma luta entre a guerreira Ginga e um
soba de Cariongo. Transformado em rei, e não um rei do Congo. É auto popular em
todo o Brasil, tendo variantes onde desaparece a rainha e figura sempre um
embaixador, que luta e vence o rei local. Noutras regiões o príncipe vencido e
morto é ressuscitado pelo feiticeiro, e tudo acaba em dança e canto. Auto
recordador de guerra, essencial é a movimentação das armas e as cantigas de
excitação. O processo de convergência leva para o CONGOS versinhos de vinte
procedências, trecho de Modinhas, idiotismo, etc. Melo Morais Filho registou o
CUCUMBI baiano, uma variante de importância para o estudo geral do auto (FESTAS
E TRADIÇÕES POPULARES, Cucumbi). Comentando e anotando o citado volume de Melo
Morais Filho (Ed. Briguiet, Rio de Janeiro, 1946) escrevi: “os chamados na
Bahia CUCUMBIS, CONGOS no norte e CONGADA no sul do Brasil, são autos populares
negros, somas de danças, de episódios desirmanados, convergidos, meio
arbitráriamente, num só enredo. Específicamente, como os vemos ou lemos no
pais, não existem no continente africano. Pelo menos não foram registados pelos
viajantes ou estudiosos do folclóre e etnografia africanas. De modo geral
podemos dividir a colaboração dos autos negros nas danças dramáticas
brasileiras em três grupos: a) danças e cantos pela coroação dos reis do
Congos, já existentes em 1711, coroados nas igrejas, com cerimonial exercendo
autoridade tradicional entre seus companheiros; b) danças e cantos
interpretativos ou narrativos de fatos históricos ou tradicionais na África,
ligados pela memória comum e executados quando das festas religiosas católicas,
Nossa Senhora do Rosário ou São Benedito, tais como as historias guerreiras da
rainha Ginga de Angola, a derrota de Henrique, rei Cariongo, matanças de
príncipes, embaixadas desafiadoras etc.; c) bailes de reconstituição social,
como os maracatus pernambucanos. Em todas as fases há o poderoso sincretismo
religioso e social, fazendo predominar as reminiscências tribais, heroísmo ou
tragédia, os cantos comuns, uníssonos e as arengas intermináveis, tão ao sabor
africano. Os instrumentos são todos tipicamente de percussão.” Quando ao enredo
os Cucumbis diferem dos Congos. Para o norte não há feiticeiro ressuscitando
príncipe e sim este morrendo ás mãos do embaixador da rainha Ginga, indo
prisioneiro o velho rei. No registo de Melo Morais Filho é um caboclo
(indígena) o matador do príncipe que volta a viver e há uma guerra entre os
dois partidos, o Cucumbi se espalhou para o sul. O Congo recolhido por Pereira
da Costa termina em festas e pazes entre o embaixador e o rei. Em São Paulo , informa-me de
Atibaia o Sr. João Batista Conti, não há morte do príncipe e intervenção
subseqüente do feiticeiro e sim uma guerra entre o rei e um general invasor,
que é derrotado e batizado, lembrando as Cheganças. Em Goiás o Congado é uma
embaixada da princesa Miguela ao rei seu primo que recebe com armas o enviado e
depois de breve escaramuça o proclama duque e mirante-mor. Os Maracatus são
desfiles pomposo dum soberano negro com sua corte, bichos, totens, a umbela
muçulmana rodando sempre, ornamental e privativa dos reis. Ostentação magnífica
do movimento e côr. Seguido de Cantigas com ou sem ligação com os personagens.
As representações do rei de Congo eram comuns em Portugal e Teófilo Braga,
citando João Pedro Ribeiro, refere a festa de Nossa Senhora do Rosário no
Porto: “Acabou, porem, já no Porto outra mascarada, em que se representava a
Côrte del Rei de Congos, com seu rei e rainha e imaginaria côrte, com que os
pretos se persuadiam render culto á sua padroeira a Senhora do Rosário, função
muito apreciada dos rapazes, e que durava três dias de Julho” (O POVO PORTUGUÊS
NOS SEUS COSTUMES, CRENÇAS E TRADIÇÕES, II, 313, Lisboa, 1885). Bibl.; Pereira
da Costa, FOLCLORE PERNAMBUCANO; Gustavo Barroso, AO SOM DA VIOLA; João
Nogueira, OS CANTOS (Revista do Instituto do Ceará, XLVIII, 89, Fortaleza, 1934);
Mario de Andrade, OS CONGOS, na Revista “Lanterna Verde”, nº 2, Rio de janeiro,
l935; Renato Almeida, HISTORIA DA MUSICA BRASILEIRA, segunda Ed. e a versão do
Congo de Goiás, recolhido por este mesmo escritor em Goiânia e publicada em Dom Casmurro , 11 e 13
de junho de 1942, Rio de Janeiro; Artur Ramos, O FOLCLORE NEGRO DO BRASIL, Rio
de Janeiro, 1935. Em
LITERATURA ORAL examinei mais lentamente os autos e
reminiscências negras no Brasil. Para as “Congadas” no Rio de Janeiro colonial.
Luis Edmundo. O RIO DE JANEIRO DO TEMPO DOS VICE-REIS, l85, Rio de Janeiro,
1932.
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO,
pags. 191 a 194, Rio de Janeiro – 1954).
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