*Tecer (v.t.) Entrelaçar, segundo um modelo dado, os fios da urdidura (em comprimento) e os da trama (em largura), para fazer um tecido.
Tecendo os Ritmos e as Folias no Rua da Festa, fomos tentando e ,sempre, recorrendo a um "fio" inspirador para nossas caminhadas na estrada da Música Folclórica Brasileira. Verdadeira é nossa gratidão aos nossos ancestrais d'África. Pois a vossa presença faz parte desse *Tecer. Assim a Mala do Folclore nos surpreende mais uma vez e emociona. E nos despedimos do Rua da Festa com os ritmos Batucajé, Cantiga e Canção.
Carybé |
Batucajé – Dança
dos negros, titulo genérico para os bailados religiosos: “são eles (os
atabaques) que marcam o ritmo das danças religiosas (batucajés), e produzem o
contato com as divindades.” (Artur Ramos, O NEGRO BRASILEIRO, 162). Também pelo
mesmo autor, das danças profanas: “a esta enumeração de danças negras ou adotadas
pelo negro brasileiro, nós podemos acrescentar outras, como os Batucajés na
Bahia, o Batuque do Jarê, no interior do mesmo estado, as danças do tambor, no
Maranhão, a dança cambinda, também chamada Piauí, etc. estas danças
negro-brasileiras do tipo do Batuque reduzem-se, afinal de contas, ao motivo
primitivo da dança de roda...” (11, 139). Nina Rodrigues não se decidiu sobre o
caráter sacro ou profano do Batucajé (AFRICANOS NO BRASIL, 234). O PEQUENO
DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LINGUA PORTUGUÊSA.(1939). Traduz o Batucajé: “dança
dos negros da Bahia.”
(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO
pags.94 , Rio de Janeiro- 1954).
Batucajé – Somos
informados de que há muitos dias reinam os Batucagés num dos terreiros do
Engenho Velho, incomodando a vizinhança com os heterodoxos ruídos dos tabaques
e chocalhos, a vozeria dos devotos que em número extraordinário a eles
concorrem, e as desordens que não raro surgem por questões de ciúme
aguardentado dos ogans e outras dignidades que ali vão assistir aos votos
feitos pela ventura, que uma multidão de mulheres de toda a casta vai ali tomar
da mão dos respectivos papais
O
que mais existe ali é a negociata dos papais e das mamães de terreiro, que
exploram a toleima dos que lhes crêem nos sortilégios, filando grossas
quantias, tirando os melhores proventos para instituição da larga clientela que
os alimenta e com isso a prática de atos lúbricos, que desembaraçadamente ali
de contínuo se exercem; nos quais é sacrificado o pudor de pobres moças, a quem
o desleixo dos pais ou as trapaças do feiticeiro arrastam e atiram na
promiscuidade dos mais variados costumes libertinos para satisfação da cupidez
insaciável dos ogans lassos, mais nunca fartos...
(“Os Batucagés” do Engenho Velho, Diário da Bahia, 12 de
dezembro de l896.)
Foto by Ana Maria |
Cantiga – Curiosa
é a figura do Cantador. Tem ele todo o orgulho do seu estado. Sabe que é uma
marca de superioridade ambiental, um sinal de elevação, de supremacia, de
predomínio, paupérrimo, andrajoso, semifaminto, errante, ostenta, num diapasão
de consciente prestigio, os valores da inteligência inculta e brava mas senhora
de si, reverenciada e dominadora. São pequenos plantadores, donos de
fazendolas, por meia com o fazendeiro, mendigos, cegos, aleijados, que nunca
recusam desafio, vindo de longe ou feito de perto. Não podem resistir á
sugestão poderosa do canto, da luta, da exibição intelectual ante um público
rústico, entusiasta e arrebatado. Caminham léguas e léguas, a viola ou a rabeca
dentro de um saco encardido, ás vezes cavalgando emprestado, de outras feitas a
pé, ruminando o debate, preparando perguntas, dispondo a memória. São
cavaleiros andantes que nenhum Cervantes desmoralizou. Os que têm meios de
vida, afora a Cantoria, todo abandonam para entestar com um adversário famoso.
Nada compensaria sua ausência da pugna, assim como a recompensa material é
sempre inferior ás alegrias interiores do batalhador. Deixam o roçado, a
miunça, a casinha, e lá se vão, palmilhando o sertão ardente, procurando
aventuras. Doutra forma não foram Amadis de Gaula, Palmeirim da Inglaterra, os
Cavaleiros da Távola Redonda, os do Santo Gral, caçadores de duelos, defensores
dos fracos, vencedores de gigantes e de anões mágicos. Dessas tournées ficam os
versos celebrando os combates e a fama derramada nas regiões atravessadas,
teatro da luta ou da derrota imprevista.
(Luis da Câmara Cascudo, VAQUEIROS E CANTADORES, pags. 87 a
91, Porto Alegre – 1939).
Canção – A Canção
pode ser considerada sem exagero como o núcleo de todas as formas musicais. Por
isso. O seu estudo cuidadoso me parece recomendável e também indispensável a
todo musicófilo. Os tipos de Canção são numerossíssimos e de difícil
classificação. Eis alguns: de Dança (embora hoje em dia a canção já se tenha
libertado do jugo da dança primitivamente cantava-se e bailava-se ao mesmo
tempo). De Ninar (também uma das formas mais antiga da Canção, apoiada no
natural afeto dos pais), da Gesta (onde se narram feitos heróicos ou
legendários), de Jogar, (para acompanhar movimentos rítmicos de jogos), de Mesa
ou Sobremesa (tão comum entre os gregos e revivida na França e na Inglaterra
pelo século XVI), de Trabalho (tão atual até hoje, sobretudo na agricultura),
Eclesiástico-Popular (de sabor arcaico e caráter místico), Festiva
(especialmente cantada em determinadas festividades anuais), Infantis (cantos
de roda, para educação musical infantil, etc.), Madrigalesca (á maneira dos
velhos Madrigais), Artísticas (erudita em forma de Lied ou não, nacionalista ou
não), Folclórica e Popular. (...)
(Vasco Mariz, A CANÇÃO BRASILEIRA (Erudita, Folclórica,
Popular) pags.18, Rio de Janeiro – 1977).
Obrigado a Música Folclórica Brasileira!
Encontre - nos em nosso endereço sonoro : https://www.youtube.com/watch?v=p8nXZwMIVOI
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