Carybé - A Chuva
Carybé - Boiada na Chuva.(Travessia)
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - As Vendedoras
Carybé - Os Magarefes
Carybé - Capoeira
Carybé - A Feira
Carybe - Criador de Passarinhos
Carybé - Galinha Legorn
Carybé - O Vaqueiro com Pega e Mulata
Carybé - Rua do Meio
Tabaréus, mascates, comedores de fogo, propagandistas, violeiros,
improvisadores, vendedores de pássaros, domadores de macaco, todos se
distribuem na imensa faixa calçada que vai da loja Pires, na rua Direita,
atravessa as praças João Pedreira e da Bandeira, até perder-se na cabeceira da
avenida Getúlio Vargas. Além da esquina do Santanópolis, além da rua do Sol
.
A
massa humana em movimento, em transações. E senhoras e senhores, conheçam a
estória em prosa e verso das façanhas do Lucas da Feira. O aviso é um alerta na
multidão, o poeta popular desloca-se agilmente em meio aos espectadores,
coloca-se no centro da roda. Quem sabe ler que leia dessa literatura, quem não
sabe que ouça de ouvidos bem abertos.
Festas, fogos de vistas, luminárias.
Gentes de longe chegam para ver. O maior cangaceiro do sertão baiano, vinte
anos de mortes, assaltos, fugas, combates, perseguições, o fim na forca. Seu
pai de criação, um padre; nascera de mãe escrava. Salteador, escreveu não leu,
pau comeu. Começa com ele o ciclo do cangaço nordestino. Vem ver, gente, a
estória de Lucas da Feira. Os amores de Lucas. O porquê do Limão. Dom Pedro
Segundo não resistiu á tentação de conhecê-lo. Palácio Imperial, um visitante
de fama singular. Protocolo? Dispensado. Atenção, Dona Teresa Cristina
desmaiou, cruz credo, esse é o Lucas da Feira? O último pedido, o chilique da
Imperatriz, a pena confessada do Imperador. O último pedido. O foguetório. O
corpo do Lucas a balançar na forca.
Da esquina do Ginásio
Santanópolis até o colo do Ponto Central. Além das cercas dos Celestinos, uma
reta só em chão batido, a poeira, a feira seguindo seu curso que nem rio, com
nascente e foz, fluxos que se estendem e se reencontram, que refluem, estágios
superiores, médios e inferiores, leito ora manso. Ora acidentado, margens, a
feira dividida em espaços de frutas, cereais, carnes, sacaria, cerâmica,
farinha, aves, cestarias, trançados, peças de corte e de tiro, perfumarias,
panos, tecidos finos e grossos, artigos de ferro, artesanato sertanejo, talhas,
porrões. Potes, resfriadores, vasos, adornos. O barro cru e queimado, seções de
frutas, tamarindo, abacaxi, fruta-pão, manga, umbu, laranja, seções de peixe,
de água doce e salgada do mar.
Sons criadores emergem do alarido
da feira. Sons de berimbau elevam-se. (...)
Mais
rodas se formam espontâneas, capoeiras, pretos de peito nu e calças brancas ensaiam
passos, aprimoram escolas. Jogo ligeiro, camarado no coração da feira. São
Bento Grande, Mestre Muritiba.
Besouro quando morreu
Abriu a boca e falou
Que o mundo vai se acabar
A canga fica pro chamador
E no dia do dilúvio
O mundo todo paralisou.
Viado perdeu a tria
Tatu no buraco entrou
E o cago foi dizendo
Ai, meu Deus pra onde vou?
As vozes seguram, então, o estribilho:
Ei, zum, zum, zum,
Capoeira mata um
Ei, zum, zum, zum,
Capoeira
mata um.
Mestre Muritiba entra novamente:
Atirei
num cutia
por cima duma cancela
Quando a cutia caiu
eu caí em cima dela
Tirei o couro, espichei
e fiz uma capa de sela.
Se você tá duvidando
pergunte ao Loreano
que anda montado nela.(...).
Havia ainda uma feira menor, em sentido horizontal, intercalada nas ruas
que cruzam a praça João Pedreira e a avenida Getúlio Vargas. Mais ou menos
doméstica, do povo dos subúrbios, dos pobres do Centro que trazem suas garapas
de cana, limão, laranja, maracujá, mangaba, bordados, miudezas caseiras,
baratas, para perto dos negociantes de artefatos de couro, chinelos, alparcatas
Maria Bonita, bijuterias, redes de cabelo, armarinhos, da rua Salles Barbosa
principalmente. Do Mercado Municipal aos arredores do Cassino do Lindinho
Labareda, banqueiro do jogo do bicho e do jogo do amor, mulheres da vida
passeiam seus brincos de vidros, seus balangandãs encomendados na Bahia, suas
jóias multicores – essa feira recria encantos. (...).
A
feira ferve na segunda-feira, a feira urbana, do comércio doméstico. Entre essa
feira, que antes já foi na terça e que agora começa verdadeiramente na sexta á
noite, atravessa o sábado e o domingo, para esgotar-se na segunda – entre essa
feira e a feira do gado, na Queimadinha, Florêncio se movimenta, se agita se
realiza. E quem não há de?.
Do
Missuíça ao Dálvaro do Amor Divino, todo mundo se encontra e se reencontra na
feira, para comprar ou para assuntar, para falar ou para ouvir, para aprender
ou para ensinar. Venha, venha à Feira de Santana numa segunda-feira, com seus
tabaréus, seus sertanejos, seus matutos, seus forasteiro, seus comerciantes,
seus pensadores, seus poetas, seus sábios, seus macumbeiros, seus oradores,
suas mulheres, seus artífices, seus mestres, seus negociantes, seus coronéis. E
fique para a micareta, a maneira daqui de ser carnaval, a micareme. Há os
Fantoches, a Cruz Vermelha, os Gaiatos do Mercado e as Melindrosas da
Queimadinha.
Nessa
feira do comércio doméstico, da praça João Pedreira à avenida Getúlio Vargas ou
na Feira do Boi, a do Campo do Gado, os tabaréus chegam de léguas afastadas,
descem de serras distantes ou sobem caminhos acima do sertão, de chapadas e de
terras estorricadas, com seus frutos, os frutos da terra trabalhados por eles.
Suas esteiras, suas cestas de pindoba, seus artefatos de sisal, os objetos de
barro cozido, sua arte rude, barata, herdada dos mamelucos, dos índios, dos
pretos escravos que povoaram Santana dos Olhos D’ Água.
Esses
homens, mulheres e crianças que movimentam suas ilusões construídas em suores
de três dias em cada semana, para estar na Feira de Santana, sexta-feira e
dormir ao relento, na frieza, a esperar o comprador, habitam choupanas com uma
ou duas aberturas que servem de porta e janela, são casas de taipa, com paredes
de barro, o barro atirado com a mão, no tapa, pedaços de madeira, alguma areia,
algum cal.
São pobres
como os pretos, tão pobres quanto os pretos e assim, embora brancos ás vezes de
olhos verdes, azuis, os que assim são também como pretos são tratados porque
são pobres, chegam e saem, entram e saem da feira como anônimos, entram na
cidade silenciosos, com seus objetos na cabeça, ou nos ombros, ou na carroça,
ou na cangalha dos animais, dos poucos animais que têm para carregar seus
produtos e voltam, montados ou a pé, a cada semana, vêm e voltam com seus
trastes, as sobras da feira, com pequenas aquisições, o que deu com o dinheiro
ganho, juntos, unidos na volta como na ida, para suas casas de palha e taipa,
onde dormem e acordam com muitas juras mas sem muitas esperanças, onde dormem e
comem e vivem juntos, sobre o chão batido, ai procriando, em cima da esteira,
do pano ralo a forrar o chão batido, muitas vezes sobre palhas estendidas como
tapetes, lençóis ou toalhas, para comer e dormir. Homens, mulheres e crianças,
pobres absolutos, que vivem como bichos, entre seus cavalos, seus porcos, seus
cachorros, seus gatos, seus enganos, suas efemeridades, mas não sua felicidade.
Alguns desses
homens e mulheres, crianças da roça que se fizeram adultos, vivem como bichos,
sem luz, suas carências, suas necessidades, rompem a união e não regressam. O
pai-de-santo, o aguadeiro, o carregador, a mulher da rua do Meio ou o operário
da olaria que conseguiu um lugar de ala das Melindrosas, são ex-tabaréus,
ex-matutos que se inserem na humanidade de Feira de Santana, entre os
piauienses, os alagoanos, os sergipanos, os pernambucanos, os de toda parte que
se atropelam nas ruas e avenidas novas, nas vias da febre do crescimento da cidade, nos ramais do boi, no Campo do
Gado.
Uma vez ou
outra, pela mão de um coronel ou de um liberal, um desses homens ou mulheres
ingressa na sociedade, confraterniza, distribui cartões de visita e disputa preferências
– mas, o coronel Farinha ou o Dr. Bonfim, como bons patriotas, logo advertem
para a origem humilde, até há pouco tempo eram simples matutos, tabaréus, hoje
têm a vida feita, são felizes, são felizes.
Viado
perdeu a tria
Tatu no
buraco entrou
E o cago
foi dizendo
Aí, meu
Deus, pra onde vou?
O som da
capoeira, o som da feira, de Mestre Muritiba, letra e melodia, se faz eco,
acompanha os passos de Florêncio.
Ei, zum,
zum, zum,
Capoeira
mata um
Ei, zum,
zum, zum,
Capoeira mata um.
Ele vai andando e
cantando, trauteando, trauteando. E quando a segunda-feira nada dá ou dá muito
pouco, os recados, as encomendas, os mandados, Florêncio espera pela terça e se
junta aos carroceiros que com suas carroças vão recolhendo pelos caminhos,
picadas da Queimadinha, nas trilhas do Campo do Gado, do Matadouro, do boi,
boiada, a bosta que ficou ao chão para o sol secar, a secar, a ser recolhida
para vender como esterco. As carroças da bosta, do estrume, do dejeto do boi,
recolhem e vendem nas fazendas, nas plantações, para o esterco, para a riqueza
da terra, os laranjais, as lavouras de frutas e cereais, vai andando e
cantando, trauteando, trauteando, que mais há para fazer? E é pouco? Vida,
vida, bela vida, vidaça.
- Hem,
Florêncio, vamos à bosta amanhã?
É o Pulinho, filho de criação de Tom Palanque, quem pergunta.
- Amanhã tem
bosta?
- Tem.
- Então, vamos.(...).
Juarez Bahia: SETEMBRO NA FEIRA. (Romance). Págs.: 148, 151,
156 a 160. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
Carybe - A Feira
Carybe - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - Cipó.(Zabumba)
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - Sem Titulo
Carybé - A Feira
Carybé - A Feira
Carybé - Retirantes
Carybé - Boiada
- SALÃO DE AUDIÇÃO -
A Feira. (Samba)
Àlbum : Minha Terra
Bom Dia... Obrigado pela Companhia !!!
Carybé - A Feira
Carybé - Sem Titulo
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Carybé - Retirantes
Carybé - Boiada
- SALÃO DE AUDIÇÃO -
Àlbum : Minha Terra
Bom Dia... Obrigado pela Companhia !!!
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