quinta-feira, 1 de agosto de 2019

FOLCLORE






                                - ENTRE CULTURA OFICIAL E A POPULAR –



                                     [...] “A distinção (entre cultura oficial e a popular) parece-me ainda mais curiosa. Não há povo que possua uma só cultura, entendendo-se por ela uma sobrevivência de conhecimentos gerais. Cafres e Pehuls têm a cultura religiosa, o conjunto de regras sagradas que ritmam a aproximação do homem á divindade, compreendendo os ritos de trabalho e acomodação social, presididos pela casta sacerdotal ou real, e outra ainda, reunião de contos, fábulas, exemplos, brincadeiras, superstições, alheia inteiramente ao cerimonial da tribo, além de lendas e contos etiológicos que pertencem ao mundo inteiro, adaptando-se ás cores locais para os efeitos divulgativos.

                                   Essa unidade que Frobenius elogiava no africano, será sempre discutida porque haverá, obstinadamente, em qualquer agrupamento humano sob a mais rudimentar organização, a memória coletiva de duas origens de conhecimento: o oficial, regular, ensinado pelo código dos sacerdotes ou direção do rei, e o não oficial, tradicional, oral, anônimo, independente de ensino sistemático porque é trazido nas vozes das mães, nos contos de caça e pesca, na fabricação de pequenas armas, brinquedos, assombros”. [...].


Luís da Câmara Cascudo. LITERATURA ORAL. Pag. 27. Rio de Janeiro – 1952.









                                                 - PRAIA FORMOSA -






Não sei, se é de “Macau”
Ou da “Guine”, vamos ver
Ai que dengo diferente
De “Lisboa”, Portugal.


Ai... ai... ai... minha nau !!!
Ai... ai... ai... além-mar !!!
Ai... ai... vento, vela...
Leme firme, caravela.


Não sei, se é do “Damão”
Ou de “Java”, vamos ver
Ai que dengo diferente
De “Cipango” no Japão.


Ai... ai... ai... minha nau !!!
Ai... aí... ai... além-mar !!!
Ai... ai... ai... vento, vela
Leme firme, caravela.


Oh !!! bahiana, tão bela
Aonde é, que, você mora ???
- Moro na “Lua Cheia”
E daqui, vou me embora.


Ai... ai... ai... minha nau !!!
Ai... ai... ai... além-mar !!!
Ai... ai... vento, vela
Leme firme, caravela.


Oh !!! bahiana, tão bela
Aonde, vosmecê namora...
- É... no muro... da igreja
A noite... na “Fonte Nova”.


Ai... ai... ai... minha nau !!!
Ai... aí... ai... além-mar !!!
Ai... ai... vento, vela
Leme firme, caravela.



Matias Moreno. PRAIA FORMOSA. Álbum: Lua Cheia. “Ana Maria & Matias Moreno”. Bahia – 1998.







- SALÃO DE AUDIÇÃO -

Praia Formosa. (Choradinho)
Álbum: Lua Cheia.







Foto: Adela Aragón Lópes





Até Breve...
Obrigado pela Companhia.












sexta-feira, 19 de julho de 2019

FOLCLORE





                             - Precursores dos Estudos de Folclore no Brasil –







                A bibliografia folclórica de autores nacionais é aberta por Celso de Magalhães, publicando, em Recife, no jornal Trabalho (1873), estudos comparativos sobre os romances velhos de Portugal recolhidos no Nordeste e os modelos do Romanceiro, de Teófilo Braga, posteriormente reunidos em A Poesia Popular Brasileira.

               No ano seguinte, José de Alencar lança O Nosso Cancioneiro, com análise e considerações sobre as formas poética populares, destacando-se as gestas de bois famosos. As nossas letras andavam em festas com o romantismo e o folclore entremeou as obras de Alencar.

              Com Religião e Raças Selvagens, no mesmo ano, Couto de Magalhães começa suas atividades entre os índios, prosseguindo com Contes Indiens au Brésil (1882) e, em 1876, O Selvagem, pesquisa que contou com a colaboração de soldados bilingües, autorizados por Duque de Caxias, então Ministro da Guerra.

              Silvio Romero, critico, historiador, jurista, colheu a poética popular, publicando na Revista Brasileira (1879-1880) seus Estudos sobre a Poesia Popular. Em Lisboa são editados Cantos Populares do Brasil (1883) e Contos Populares do Brasil (1885). Gustavo Barroso, ao biografá-lo no I Congresso Brasileiro de Folclore, afirma que “Ninguém nesse período de 1883 a 1951 deu ao Brasil maior cópia de Romances e Xácaras, salvo do esquecimento e destruição”.

              Mello Morais Filho foi um paisagista de usos e costumes. Dentre suas obras, Festas e Tradições Populares do Brasil (1888) cumpre o destino que lhe anteviu Silvio Romero no prefácio: “suas descrições de costumes hão de ser chamadas a depor, como documentos autêntico”.

              Pereira da Costa, Manoel Querino e Vale Cabral, do Nordeste, nascidos como Silvio Romero, em 1851; sob a tutela de seus nomes realizou-se o I Congresso Brasileiro de Folclore, que lhes celebrou o centenário. Pereira da Costa se distinguiu com Folk-lore Pernambucano; Manoel Querino se localiza preferentemente nos complexos culturais baianos, sendo o negro o ponto central; Vale Cabral deixou 15 Cadernos de Literatura Oral do Nordeste.

             José Verissimo, em 1882, publica na Revista América seus estudos sobre Tradições, Crenças e Superstições Amazônicas, e, em 1891, Barbosa Rodrigues apresenta na Revista Brasileira a pesquisa sobre Lendas, Crenças e Superstições, seguindo com Poranduba Amazonense (1890).

               Um rumo diferente daria aos estudos de folclore, iniciando estudos científicos sobre o negro, derrubando os limites socioculturais da época, e desvendando o pensamento africano com L’animisme fetichiste des nègres de Bahia (1900) e Os Africanos no Brasil (1933).

               Nas primeiras décadas do século XX, João Ribeiro, historiador e filólogo, ministra na Biblioteca Nacional (1913) o primeiro curso de Folclore e com tenacidade e paciência percorria dos Vedas á quadrinha popular o caminho no qual poderia deparar-se com a solução de problemas de exegese. Tornou o Folclore como ciência psicológica e em 1919 publica O Folclore.

               Amadeu Amaral (SP) considerava que o povo tem uma ciência a seu modo, uma arte, uma filosofia, uma literatura (ciência, arte, filosofia, literatura anônimas). Tem também um direito, uma religião e uma moral que se distinguem dos que lhe são impostos pela cultura da escola ou lhe vêm por infiltração natural de influências ambientais – muito embora possam ter tido uma origem cultural remota, mas já trabalhada por um inconsciente processo de adaptação da psique coletiva. Pioneiro da dialetologia nacional com Dialeto Caipira (1920), sugeriu á Academia Brasileira de Letras a centralização dos estudos de Folclore, propôs a fundação de uma associação em São Paulo, que funcionasse a modo de mutirão, com material metodicamente arquivado, numa forma rudimentar de banco de dados. Publicou trabalhos em O Estado de S. Paulo na década de vinte, depois reunidos em Tradições Populares (1948).

               Lindolfo Gomes (SP) foi o primeiro a estudar o conto cientificamente e a esboçar um sistema de classificação, no Brasil. Publicou Contos Populares, 1931.

               Entre os continuadores, Mário de Andrade; amou o povo e lhe bebeu a sabedoria. Foi o primeiro a fazer pesquisa de campo, a formar equipe de pesquisadores, realizando, em 1938, no Norte e Nordeste, o mais denso e rico levantamento folclórico. Legou extensa bibliografia na qual comparecem não apenas as resultantes das pesquisas, mas as indagações e os problemas situados em pontos vitais da ciência.

               Impossível arrolar os nomes de tantos e tantos mestres que abriram veredas e ergueram conclusões normativas; mas figuram nas bibliografias especializadas e em várias obras folclóricas. Dentre as primeiras: O Folclore no Brasil, de Basílio de Magalhães; Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiro, de Rubens Borba de Morais; Bibliografia do Folclore Brasileiro, de Bráulio do Nascimento; Boletim Bibliográfico, do IBECC.



Maria de Lurdes Borges Ribeiro, FOLCLORE, Biblioteca Educação É Cultura, págs. 28, 29, e 30, Rio de Janeiro – 1980.








                                                       - O CORONEL –






O Coronel
Mandou comprar
O Iorubá além-mar.


O Coronel
Desafiou o Paiaiá
O Maragojipe e o Sabujá.


O Coronel
Mandou atacar
O comboio da Coroa.


O Coronel
É meu padrinho
E do povo, todo de lá.



Matias Moreno. O CORONEL. Álbum: Maré Alta. “Ana Maria & Matias Moreno”. Bahia – 2005.







- SALÃO DE AUDIÇÃO -

O Coronel (Xácara)
Álbum: Maré Alta





Foto: Adela Aragón Lópes





Até breve !!!
obrigado por vossa companhia...






          






quinta-feira, 11 de julho de 2019

A CABOCLA






                                                      - A CABOCLA -




Joga
Confete na Pemba.


Mistura
Água Benta
Com alfazema.


Joga
Pataca...
Bilhete...
E moeda.


Na Cabocla
Do Andor.


E tenha fé
No seu Côrôcôcô.




Matias Moreno. A Cabocla. Álbum: Boa Viagem. “Ana Maria & Matias Moreno”. Bahia – 2013.







- SALÃO DE AUDIÇÃO -

A Cabocla. (Modinha)
Álbum: Boa Viagem.







Foto: Adela Aragón Lópes







Boa Viagem !!!
até breve e obrigado pela companhia.








sexta-feira, 28 de junho de 2019

PIRAJÁ





                                                      - PIRAJÁ -






No “Morro do Boiadeiro”
Tem um túnel
Que passa o saveiro
Com o negro da África
Vendido ao fazendeiro.


Foi vovó
Quem contou...
Também Iorubá
Ali desembarcou
ketu, Nagô
E Ijejá.


De Plataforma a Pirajá
O Jesuíta mandou cavar
Um túnel que aparecia
Na beira do mar.


Pra fugir da "Canhoneira Lusa"
Na guerra de Pirajá.


Foi vovó
Quem contou...
Também Iorubá
Ali desembarcou
ketu, Nagô
E Ijejá .




Matias Moreno. Pirajá. Álbum: Bate-Pé. “Ana Maria & Matias Moreno”. Bahia – 2004.




                                                                               


- SALÃO DE AUDIÇÃO -

Pirajá (Canção-Ijejá).
Álbum: Bate-Pé







Foto: Adela Aragón Lópes






Obrigado pela companhia...
até breve.












sexta-feira, 14 de junho de 2019

MARTELO







                                                       - MARTELO -
                               





Meu Martelo
Bate, bate
Bate, bate sem parar.


O canto que eu conheço
Não parece com o de lá


Meu Martelo
Bate, bate
Bate, bate sem parar.


O ferreiro quando bate
Bate até o sol raiar.


O trovão quando canta
Canta, canta com o mar.


Canta, canta
Meu Martelo
Canta, canta sem parar.




Matias Moreno. MARTELO. Álbum: Minha Terra. “Ana Maria & Matias Moreno”. São Paulo – 1987.







- SALÃO DE AUDIÇÃO -

Martelo (Martelo)
Álbum: Minha Terra







Foto: Doação Gentil





Obrigado pela companhia !!!
até breve...







sábado, 1 de junho de 2019

SÃO JOÃO



                                                         

                                                           - SÃO JOÃO -





São João é bom
Bom de se brincar
Pula, pula fogueira
Até o sol raiar.


São João é bom
Bom de se dançar
Já estou na quadrilha
Quero namorar.


São João é bom
Bom de se queimar
Um morrão
Com maracujá.


São João é bom
Bom para casar
Olha pro céu
Que eu vou te beijar.


Capelinha de melão
É de São João                    
É de cravo, e de rosa
É de manjericão.





Matias Moreno. SÃO JOÃO. Álbum: Cisca-Fogo. “Ana Maria & Matias Moreno”. Paris – 1996.   







-SALÃO DE AUDIÇÃO -

São João (Xerém)
Álbum: Cisca-Fogo







Foto: Doação Gentil







Até breve...
muito obrigado.
 Até...São João do Carneirinho.





























                                                          
              






segunda-feira, 20 de maio de 2019

CARRO DE BOI






                                                   - CARRO DE BOI -   




Ô... ô... ô...


Carro de boi
Quando geme
Lá na serra
É o Gemedor...


E vem trazendo Rosinha
Pra dançar lá no arraial
Tem colheita boa
Lá no milharal
São João... João do Carneirinho.


Ô... ô... ô...


Carro de boi
Quando geme
Lá na serra
É o Gemedor...


Ô... ô... ô...  


A noite de luar
Já chegou lá no terreiro
Tem Viola e fogueira
Lá no arraial
São João, Santo Antônio e São Pedro.


Ô... ô... ô...




Matias Moreno. CARRO DE BOI. Álbum: Cisca-Fogo. “Ana Maria & Matias Moreno”. Paris – 1996.  





              

                              - SALÃO DE AUDIÇÃO -                                  

 Carro de Boi (Côco do Sertão)
Álbum: Cisca-Fogo





Foto: Adela Aragón Lópes





Obrigado pela companhia...
até a próxima no "Terreiro" !!!