domingo, 30 de março de 2014

ENCONTRO COM O FOLCLORE








Arquivo Particular

Catopê – Variante do Congo ou Congado no norte do estado de Minas Gerais.
(Luis Heitor, CULTURA POLITICA).



Catopês - Dentro do nosso folclore, as Festas de Agosto são, sem nenhuma dúvida, a festa de maior participação popular. Não se sabe precisar quando começaram. Mas o fato é que a mais antiga notícia data de 23 de maio de 1838, quando Marcelino Alves requereu junto à Câmara Municipal "licença para tirar esmolas para as festas de Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo, que pretendia fazer nessa freguesia". São, portanto, pelo menos 170 anos que os Catopês, Marujos e Caboclinhos percorrem as ruas de Montes Claros, seguindo seus reis, rainhas, imperadores, imperatrizes, princesas, etc., cantando, dançando e louvando seus santos de devoção.
Nesses grupos estão representadas as três raças que originaram o brasileiro. Os Marujos são de origem européia e narram às aventuras dos marinheiros descobridores, Os Caboclinhos são os nossos índios. O Grupo é formado em sua maioria de crianças. Falam das brincadeiras dos nossos curumins. Os Catopês são de origem africana. E é sobre esses últimos que desenvolveremos nosso trabalho.



A ORIGEM

Como foi dito acima, os Catopês são de origem africana. Os negros, quando vieram escravizados, trouxeram consigo suas crenças e tradições. Continuaram homenageando seus reis e cultuando seus deuses. Um desses reis foi o famoso "Chico Rei", escravo na região de Ouro Preto, mas que era príncipe em sua tribo africana. Aqui, os seus súditos e companheiros de escravidão o fizeram rei e, de acordo com a tradição, comandava as festas de culto a seus deuses. Chico Rei tornou-se célebre por ter, juntando aos poucos ouro em pó que trazia das minas misturado aos cabelos, conseguiu comprar sua própria liberdade. Uma vez homem livre, conseguiu ainda a liberdade de vários de seus companheiros de infortúnio.
Na falta de um rei verdadeiro, elegiam alguém, entre eles, para que os representasse e assim faziam o seu cerimonial.
Como aconteceu com a macumba, o candomblé, a umbanda, os negros relacionaram seus deuses aos santos da Igreja Católica e passaram a cultuar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.



O CATOPÊ DE MONTES CLAROS

Embora da mesma origem dos Congados, Moçambiques e outros similares de outras regiões, o nosso Catopé, talvez por ter ficado isolado dos outros irmãos, com o tempo foi adquirindo características próprias, a começar do próprio nome, Catopê, que seria o nome da dança ou do ritmo, como o batuque.
Os Catopês são um grupo de homens, a que chamam terno, adultos ou crianças. Apenas de poucos anos para cá algumas mulheres têm participado. Usam calças brancas, a camisa de manga comprida também branca. Na cabeça, um capacete enfeitado com espelhos, aljôfares e miçangas. Deste capacete, até quase ao chão descem fitas coloridas a larguras variadas. O capacete dos chefes, além desses enfeites, traz no topo penas de pavão. Como geralmente o capacete é feito pelo próprio Catopê, a sua aparência vai depender inteiramente do gosto de cada um e do poder aquisitivo para compra dos adornos, que na maioria é baixo. Mas, aquele cuidadoso, a cada ano, vai acrescentando alguma coisa, mais umas fitas, mais aljôfar, etc.
No início, aqui em Montes Claros, o terno era composto apenas por negros, mas, hoje em dia, não existe mais essa exclusividade, ao contrário do que acontece em outras cidades, como Minas Novas, por exemplo, onde existem duas congregações, a dos Homens Negros e a dos Homens Brancos.
Atualmente, temos aqui em Montes Claros três ternos de Catopês. Dois de Nossa Senhora do Rosário e um de São Benedito.



A MÚSICA

A música do Catopê é melodicamente pobre, predominando o ritmo, tanto que o seu instrumental é exclusivamente de percussão. São tamborins, pandeiros e caixas, em geral fabricados por eles mesmos, usando couro de cabrito.
Cantam sempre sob o comando do mestre, que canta uma estrofe e todo o grupo responde. Apesar da pouca musicalidade, a riqueza do ritmo e o arranjo dos instrumentos dão um efeito de rara beleza e emoção.



A FESTA

Antigamente, as Festas de Agosto realizavam-se nos dias 16, 17 e 18 de agosto. Aliás, começavam no dia 15, com o mastro de Nossa Senhora do Rosário. Dia 16, pela manhã, o desfile do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e, à noite, o mastro de São Benedito. Dia 17, pela manhã, o Reinado de São Benedito e, à noite, o mastro do Divino. Dia 18, pela manhã, o desfile do Império do Divino. Um detalhe é que nos dias de Nossa Senhora e de São Benedito desfilavam um rei e uma rainha. Já na festa do Divino, era um imperador e uma imperatriz.
Atualmente, faz-se a festa no fim de semana mais próximo a essas datas, a fim de facilitar para os participantes dos grupos, geralmente pessoas de baixa renda, operários que têm dificuldade de justificar a falta ao trabalho.
Nos desfiles dos reinados, os Catopês e os outros grupos conduzem o rei e a rainha - acompanhados de princesas, príncipes, damas da corte, etc. - até a Capela de Nossa Senhora do Rosário, onde é rezada a missa, com a participação dos grupos. Em seguida, é servido o almoço para todos os participantes. Este almoço é de responsabilidade dos pais do rei e da rainha, ou do imperador e da imperatriz.
Aqui tem um detalhe que diferencia bastante o nosso Catopê dos Congados de outras cidades. Nos Congados, o rei e a rainha são sempre negros e adultos. Pessoas ligadas diretamente aos ternos. Em Montes Claros, são sempre crianças, independente da raça, sorteadas entre as famílias que se inscrevem pleiteando a realização da festa. Geralmente em cumprimento de promessas.
Tive certa vez uma explicação a respeito de tal diferença, ou seja, porque crianças - a maior parte brancas - e não adultos negros. A justificativa é a seguinte: essa festa era exclusiva das senzalas. Apenas os escravos participavam. Acontece que era costume, não só aqui como em todas as partes, a mãe-preta, uma escrava que amamentava os filhos do senhor. Para essa função era sempre escolhida uma mulher de boa saúde e de boa índole, em quem os patrões pudessem confiar suas crianças. E sempre acontecia que essa escrava, pelo fato de alimentá-las com seu leite, acabava por se sentir meio mãe, apaixonada e dedicada ao "sinhozinho" ou à "sinhazinha".
Dizem que numa época, uma criança filha de um fazendeiro adoeceu, doença grave. Tentou-se os recursos médicos da época sem resultados. Foi quando entrou em cena a mãe-preta, desesperada com a quase certeza da perda do "filho". Diz aos pais da criança que ia fazer uma promessa a São Benedito, pedindo pela vida do menino e que, se ele se salvasse, sairia como rei na festa dos escravos. Os pais, que a essa altura já estavam recorrendo a qualquer coisa que lhes desse uma esperança, aceitaram o compromisso. O fato é que a criança começou, logo em seguida, a sentir melhoras e, em poucos dias, estava inteiramente sã. O pai cumpriu a promessa da escrava e, ano seguinte, pela primeira vez, um menino branco foi o rei na festa dos negros.
A notícia do milagre correu. A partir daí é que houve a mudança. A festa saiu da senzala. Os patrões passaram a participar e a promovê-la. Sempre pagando promessa feita a Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito, tradição que até hoje é mantida.

(Virgilio Abreu de Paula, CATOPÊS DE MONTE CLAROS).



http://eusr.wordpress.com/2012/10/20/a-nobreza-de-chico-rei/
Rugendas




Modinha – É um diminutivo de Moda, tipo mais antigo da Canção Portuguesa, cuja denominação coexiste no Brasil, com aquela: Moda de Viola, Moda Paulista, etc... está na índole da língua e na tradição dos Compositores esse emprego do diminutivo; o mesmo ocorre com Fado e Fadinho, Polca e Polquinha, Tango e Tanguinho, Choro e Chorinho etc... a diversificação entre Moda e Modinha ocorreu em Portugal, no século XVIII, logo seguida por uma outra distinção perfeitamente definida; a Modinha Portuguesa e a Modinha Brasileira. A esta dizem respeito as restrições moralistas acima referidas. Apesar disso, eram cantadas nos melhores salões de Lisboa; e os Escritores que observaram a Música Portuguesa no tempo, sempre destacam a Modinha Brasileira, pela qual manifestam preferência. A comparação entre os documentos existentes hoje em dia prova cabalmente essa distinção entre os dois tipos de Modinhas. E mesmo no Brasil foram freqüentemente cantadas as Modinhas Portuguesas, de fina melodia mais singela, estabilidade tonal e modal maior, isto é privadas daquilo que fazia o encanto das Brasileiras e que já era um traço inconfundível de caracterização nacional. Efetivamente, Martius, referindo-se ás Modinhas Brasileiras que ouviu em nosso pais, no começo do século passado, diz que elas “conservam integralmente o sabor popular e denunciam de vez em quando o pathos verdadeiramente lírico de poetas quase sempre anônimos”. Outro ponto divergente entre Modinhas Portuguesas e Brasileiras é o canto a duas vozes, empregado com freqüência pelas primeiras e nunca pelas nossas.

(Luis de Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pags. 403 e 404, Rio de janeiro – 1954). 



Samba-Chôro – “Os Músicos, na sua maioria, faziam pontos nas Casas de Música na Rua dos Ourives, 50 de propriedade de Buschmann e Bevilacqua; no Moreira, á Rua Gonçalves Dias; no Cavaquinho de Ouro, á Rua da Carioca, e na Rabeca de Ouro, na mesma Rua. Nos botequins, encontravam-se, freqüentemente, os malandros chorões, cantando Modinhas e assobiando ao ouvido de outros entusiastas do Chôro.
                 Findo o baile, alta madrugada, o Chôro saiá tocando uma Polca dengosa e o pessoal mergulhava no primeiro botequim que encontrava aberto. O Português gorducho dono do estabelecimento já sabia e perguntava logo: “então, o que vai? uma gemada com vinho do Porto ou uma boa misturada?” cada um escolhia a bebida de sua predileção, havendo quem preferisse o rabo-de-galo, que era uma misturando Parati, mel de abelha e canela. E o Chôro continuava. O sol invadia o botequim e a flauta se fazia ouvir acompanhada do cavaquinho, do violão. O botequim enchia-se de Seresteiros que vinham de outros Forrobodós e o Chôro continuava até 9, 10, e 11 horas”.   

(Alexandre Gonçalves Pinto, O CHÔRO “Reminiscências dos chorões antigos”, Rio de Janeiro – 1936).




Arquivo particular
Foto Ana Maria 

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segunda-feira, 24 de março de 2014

Passeios nas Ritmias e Folias 




Arquivo particular



 Ficha Técnica:



Ana Maria : Canto e Afoxé
Matias Moreno : Canto e Violão
Matias Moreno : Autor e Compositor

Bidio : Percussão e Ritmo
Breno Tsokas : Pandeiro e Ritmo
Mateus Costa : Violino
Ian Ferreira : Viola
Robertinho Lago : Bandolim
Guido Cerqueira : Sax
Pedro do Patrocínio : Cavaquinho e Ritmo e gravação

Ilustração : Carybé
Foto Arte design - Richard Mas


Continuamos o passeio pelo Rua da Festa, agradáveis surpresas com a Mala do Folclore e os Ritmos Toada, Batuque e Jongo Canção.


Toada – “Não me foi possível, de minha parte, identificar uma Toada, embora sejam elas citadas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Ceará, Alagoas, etc. os elementos possivelmente típicos e constantes ocorrem noutros modelos e ficam no quadro geral das Modas ou Modinhas Matutas, em quadras, com refrão, algumas conhecidas como Chula”.(...)

(Luis de Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Pags. 616, Rio de Janeiro -1954).


imagem da internet




Batuque – “Dança com sapateado e palmas, ao som de Cantigas acompanhadas só de tambor, quando é de negro, ou também de viola e pandeiro, quando entra gente mais asseada, diria Macedo Soares numa definição que se vulgarizou. Os instrumentos de percussão, de bater, membranofones. Deram batismo á dança que se originou no continente africano, especialmente pela Umbigada, batida de pé ou vênia para convidar o substituto do dançador solista. Batuque é convidar o substituto do dançador solista, Batuque é denominação genérica para toda dança de negros na África. Nome dado pelo português”.(...).

(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Pags.94, Rio de Janeiro – 1954).



Jongo-Canção – “O Jongo em Cunha é realizado em torno dos instrumentos. Já recolhemos quatro modalidades diferentes de se dançar o Jongo. Ora em torno dos instrumentos, ora estes são carregados pelos tocadores, como acontece em São Luis do Paraitinga, Bananal, Barreiro, Areias. Em todos, porem conserva sua característica de dança de roda, que se movimenta no sentido lunar, isto é em sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio. É comum nas danças de negros, girarem no sentido lunar. Os passos são deslizantes para a frente com o pé esquerdo e direito, alternadamente. Ao finalizar cada deslizamento, há um pequeno pulo, ao aproximar o pé que está atrazado. De vez em quando os dançarinos dão um giro com o corpo. Principalmente aquêles que estão na frente das poucas mulheres, que dançam. Estando em frente, vira e defronta-se com a mulher, e ambos mudam os passos ora para a frente, ora para traz, duas vezes, depois giram. O homem ao girar, fica novamente com as costas para a mulher. Também ela ás vêzes, dá meia volta, defronta-se com o homem que está atrás. Com esse, ela dá um passinho para a frente ao lado direito, balanceia para traz, depois balanceia para a esquerda, gira e dâ-lhe novamente as costas”(...).

(Alceu Maynard Araújo, DOCUMENTARIO FOLCLORICO PAULISTA, Pags. 31, São Paulo – 1952.)



  
Arquivo particular
Foto by Ana Maria



Assim estamos nos despedindo dessas Folias e Ritmias do Folclore Brasileiro, que respeitosamente nos acolhe. Então, resta-nos esperar o próximo Post e o que nos traz a Mala do Folclore. Até breve! e encontre-nos em nosso endereço sonoro:
        
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segunda-feira, 17 de março de 2014

Recôncavo Negro, Brasil Colonial

Rua da Festa!

"O Recôncavo baiano é a região geográfica localizada em torno da Baía de Todos-os-Santos, abrangendo não só o litoral mas também toda a região do interior circundante à Baía.
Geograficamente, o Recôncavo inclui a Região Metropolitana de Salvador, onde está a capital do estado da Bahia, Salvador e outras cidades circundantes à Baía de Todos os Santos, entre elas, as de maior representatividade histórica e econômica são: Santo Antônio de Jesus, Candeias, São Francisco do Conde, Madre de Deus, Santo Amaro,Cachoeira, São Félix, Maragojipe e Cruz das Almas. Entretanto, o termo Recôncavo é constantemente utilizado para referir-se às cidades próximas à Baía de Todos os Santos, limitando-se ao interior, ou seja, excetuando-se a capital do estado, Salvador."
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rec%C3%B4ncavo_baiano ).

Estamos em Terras Brasileiras, cidades berço do Recôncavo Baiano. Registros no Rua da Festa, em nossas caminhadas com a Mala do Folclore descobrimos os ritmos Cucumbí, Bendeguê, Bendito-Caboclo.
                         


Arquivo pessoal.




Cucumbi – Descendo a Rua do Rosário, pela altura da dos Latoeiros, caminho do Terreiro do Paço, a tropilha folgaz dos negros vem cantando, a dançar, ao som de adufos, caxambus, xequerês, marimbas e agogôs, seguida, açulada, aplaudida pelo poviléu gárrulo e jovial que com ela faz mescla e se expande feliz. Nunca se viu na rua tanto negro! São negros de todas as castas e todas as ralés, despejados pelas vielas e alfurjas em redor, atraídos pelo engodo da folia: gongos e mocambiques, monjolos e minas, quiloas e benguelas, cabindas e rebolas, de envoltas com mulatos de capote, com ciganos e moleques, a turbamulta dos quebra-esquinas, escória das ruas; flor da gentalha e nata dos amigos do banzé. O reboliço cresce, referve, explode, continua... nos interiores das casas, a famulagem, ouvindo fora os ruídos das musicas, desencabrestada e cadente, abandona o trabalho, deserta das cozinhas, vara corredores, derribando móveis, batendo portas, saltando janelas, caindo na rua... não há escravo que atenda amo, que obedeça a senhor nesse minuto de desabafo e embriaguês. É uma loucura! O que ele quer. O negro, é aturdir-se na folia, mergulhar na folgança, integralizar-se no ritmo do Samba, fazendo um pião no tronco, e das pernas dois molambos, que se confundem em delírio coreográfico. É um desengonço macabro, em que a gente sente o negro desanatomizar-se todo, desarticulando braço, cabeça, pé, perna, pescoço e mão. Isso tudo aos guinchos, aos assobios, aos berros, aos áia! Oia! Eia!
São as Congadas...
(Luis Edmundo (L.E. de Melo Pereira da Costa). O RIO DE JANEIRO NO TEMPO DOS VICE-REIS 1763-1808, Pag. 185, Rio de Janeiro – 1932.
   
  
Cucumbi - O Cucumbi não passava de uma recordação das festas africanas, é certo mas foi-me impossível conhecer a significação própria do vocábulo. Compunha-se de numeroso agrupamento: uns armados de arco e flecha, capacete, braços, pernas e cintura enfeitados de penas, saiote e camisa encarnada, corais, missangas e dentes de animais no pescoço, à feição indígena.

Outros, porém, trajavam corpete de fazenda de cor, saieta de cetim ou cambraia, com enfeites de velbutina azul e listras brancas, num estilo bizarro, acomodado ao divertimento.

Os instrumentos consistiam em pandeiros, ganzás, checherés ou chocalhos, tamborins marimbas e piano de cuia (cabaça enfeitada com contas).

Os Cucumbis ensaiavam as suas diversões em determinados pontos, como fosse: largo da Lapinha, Terreiro de Jesus e largo do Teatro, sob as frondosas cajazeiras que aí existiam.

No trajeto iam cantando:
           
Viva nosso rei,
Preto de Benguela
Que casou a princesa
C'o infante de Costela.

Respondia o grupo indígena:

Dem bom, dem bom,
furumaná;
Catulê, caia montrué
Condembá.

Além dos instrumentos acima indicados, certos personagens conduziam os seus grimas os quais no final de cada estrofe se cruzavam dois a dois.

O bi iáiá, o bi ióió,
Saravudim, sarami, saradô.

Ao pronunciarem a silaba dô era o som abafado pelo choque dos grimas, batendo uns de encontro aos outros. Em seguida, davam voltas e trejeitos ao corpo, repetiam o canto e os mesmos movimentos.

Chegados ao ponto determinado, começava a função:

Cum licença auê
Cum licença auê
Cum licença de Zamblapongo,
Cum licença auê.

Em meio da festança, um indígena era acusado de haver enfeitiçado o guia, que devido a essa cirscuntância, se achava em estado mortal.

Discutido o assunto com alacridade, o feiticeiro se entusiasma e canta em tom autoritário:

Tu caté gombé
Tu está gombê.
Chaco chaco,
Mussugaué.
O diá sambambê:
Matê, ô matê ô!
Vida ninguém dá.

Compenetrado do seu valor, e solicitado para mudar de resolução, o feiticeiro se delibera a curar o guia, que simula agonizante.

Para isso, no meio de grande algazarra, toma de uma bolsinha e com ele toca levemente as pernas e os braços do doente, dando movimento desordenado ao corpo, entoando cantigas lúgubres. Ao depor a bolsinha ou contra-feitiço nos lábios do guia, este recobra os sentidos, e todos se entregam às maiores expansões de regozijo. Os nacionais se afeiçoaram tanto ao Cucumbi que conseguiram imitá-lo vantajosamente, intercalando nos cânticos vocábulos da língua vernácula, sem, contudo, desvirtuá-lo.

(Manuel Querino, "CUCUMBIS”. A Tarde. Salvador, 04 de julho de 1957).


http://fortesantoantonio.blogspot.com.br/.
Carybé




  
Bendenguê – Jongo, dança de negros da costa, ao som da puíta e cantigas africanas, espécie de Bangulê.
(Macedo Soares)
  


Bendito-Caboclo – Canto religioso com que são acompanhadas as procissões e, outrora, as visitas do santíssimo. Denomina o gênero o uso da palavra Bendito, iniciando o canto, uníssono

(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pag. 97, Rio de Janeiro – 1954).
  


Bendito-Caboclo - “Há uma certa influência francesa, ou melhor, o aproveitamento dos Benditos franceses, com o popularíssimo Queremos Deus, que é o Nous Voulons Dieu, de F.M. Moreau”.

(Renato Almeida, HISTORIA DA MÚSICA BRASILEIRA, pag. 132).



E assim Amigos da Música Folclórica Brasileira deixamos nossa alegria com vocês e nos encontraremos em breve, com mais pérolas de nosso Povo Brasileiro. E a Mala do Folclore prepara mais novidades. Estamos em nosso endereço sonoro : 

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Foto by Ana Maria











      


            
                                                                                                             
                      




                               


segunda-feira, 10 de março de 2014

A Música Folclórica é nossa estrada




 O sobrenatural na Música Folclórica como as lendas, os contos e as histórias de nosso povo, retrata-se em nossas canções. O Porto Maré Alta a cada audição, nos mostra a nossa ancestralidade dissolvida nos ritmos Lundu, Ciranda de Roda e Canção Praieira. Que fecham a Mala do Folclore.


Lundu – “Dança e canto de origem africana, trazida pelos escravos bantos, especialmente de Angola, para o Brasil. A Chula, o Tango brasileiro e o Fado muito devem ao Lundu. Era bailado de par solto e uma sua representação sul-americana bem típica é a Samba-Cueca do Peru, Chile e Argentina. No segundo quartel do século XIX o Lundu-Dança decaiu cedendo quase completamente o seu lugar ao Lundu de Salão, meio lânguido, meio cômico. A voga do Lundu-Canção, iniciada em fins do século XVIII e acentuada no Primeiro Império, se deve em grande parte ao mulato Domingos Caldas Barbosa. O Lundu foi a primeira forma de música negra que a sociedade brasileira aceitou e, graças a ele, o negro deu á nossa música algumas característica importantes, com a sistematização de sincopa e o emprego da sétima abaixada. Para aceitar totalmente o Lundu, a sociedade Colonial brasileira transformou-o em Canção, libertando-o de uma coreografia que escandalizava e irritava as pretensões de brancura”.
(Oneida Alvarenga, MUSICA POPULAR BRASILEIRA, pags. 128-129, São Paulo-l945)




Ao Canto e Afoxé : Ana Maria
Ao Canto e Violão : Matias Moreno
Autor e Compositor: Matias Moreno

Lins Henrique: Sax
Antônio da Silva: Berimbau
Niel do Bandolim:Bandolim
Danilo Santana: Trombone
Josias Jr.: Teclados
Mateus Costa: Violino
                             
                                    
 Estudios :INGÁ

Ciranda de Roda - Cantigas de Roda, Cirandas ou Brincadeiras de Roda são brincadeiras infantis, onde tipicamente as crianças formam uma roda de mãos dadas e cantam melodias folclóricas, podendo executar ou não coreografias acerca da letra da música. São uma grande expressão folclórica, e acredita-se que pode ter origem em músicas modificadas de um autor popular ou nascido anonimamente na população. São melodias simples, tonais, com âmbito geralmente de uma oitava e sem modulações. O compasso mais utilizado é o binário, porém não raramente também o ternário e o quaternário. Entre as cantigas de roda mais conhecidas estão Roda Pião, Escravos de Jó, Rosa Juvenil, Sapo Cururu, O Cravo e a Rosa, Ciranda-Cirandinha e Atirei o Pau no Gato.

Em outras palavras, Cantigas de Roda é um tipo de canção infantil popular relacionada às brincadeiras de roda. Nesse sentido carregam uma melodia de ritmo limpo e rápido, favorecendo a imediata assimilação. Estão incluídas nas tradições orais em inúmeras culturas. No Brasil, fazem parte do folclore brasileiro, incorporando elementos das culturas africana, européia (principalmente portuguesa e espanhola) e indígena.

Na matriz cultural brasileira têm uma característica interessante, que é a autoria coletiva (ou anônima) pelo fato de serem passadas de geração à geração. Atreladas ao ato de brincar, consistem em formar um grupo com várias crianças (ou adultos), dar as mãos e cantar uma música com características próprias, com melodia e ritmo equivalentes à cultura local, letras de fácil compreensão, temas referentes à realidade da criança ou ao seu imáginário, e geralmente com coreografias.

As cantigas hoje conhecidas no Brasil têm origem européia, mais especificamente em Portugal e Espanha. As cantigas de roda são de extrema importância para a cultura de um país. Através delas dá-se a conhecer costumes, o cotidiano das pessoas, festas típicas do local, comidas, brincadeiras, paisagem, crenças. Normalmente tem origens antigas e muitas versões de suas letras, pois vão sendo passadas oralmente pelas gerações.(WIKIPÉDIA)

Arquivo Particular
Foto by Ana Maria





Canção-Praieira – “Todos os anos estava eu na praia de Itapuã junto aos pescadores, saindo para o mar nas jangadas e saveiros, ouvindo as histórias de Iemanjá. Como as ouvia, também nos mercados e feiras, no Porto da Lenha, na beira do cais. Os negros e mulatos que têm suas vidas amarradas ao mar têm sido a minha mais permanente inspiração. Não sei de drama mais poderoso que o das mulheres que esperam a volta, sempre incerta, dos maridos que partem todas as manhãs para o mar no bojo dos leves saveiros ou das milagrosas jangadas.”
(Dorival Caymmi, CANCIONEIRO DA BAHIA)


As caminhadas pelo Litoral, nos proporcionam grandes e belos encontros, pessoas visitantes de nossas terras que de alguma forma nos aproxima e nos leva para seus sítios. Agradecidos amigos! e como sempre na estrada, vamos adiante levando e elevando a Música Folclórica Brasileira.


Arquivo particular
Foto by Ana Maria


 fiquem em nossa companhia, no endereço:  http://www.youtube.com/watch?tYZ43ixvs60&feature=youtu.be 
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