sábado, 28 de junho de 2014

O BAÚ DO FOLCLORE NOS CONTOU...

arquivo particular



BRASILIANA – (...)”O imperador é, portanto, um consumado poliglota. E aproveita as vantagens que tem sabido auferir para pôr-se ao corrente, pelo seu próprio esforço, de tudo o que se publica na Europa e na América. Livros de ciência, obras literárias, periódicos, tudo ele devora, tudo ele retém. Eis a prova: algum tempo depois da nossa chegada ao Rio, tivemos a honra, minha esposa e eu, de sermos recebidos por Sua Majestade. Foi na residência imperial de S. Cristóvão que alcançamos apresentar-lhe as nossas respeitosas homenagens.

   A galeria coberta onde se achava o imperador estava atulhada de uma multidão de pessoas dos dois sexos e de diversas raças, que vinham cumprimentar S. M., outras solicitar-lhe algum favor.

   Num estrado que dominava a galeria, músicos de todas as nuanças de pele (se não me engano o regente era um mulato) executavam trechos da Judia e da Filha do Regimento. O imperador do Brasil é sem dúvida o soberano que se pode abordar mais facilmente. Não o cercam nem guardas pessoais, nem ajudantes de ordens, nem mestres de cerimônias que se coloquem entre ele e seus súditos. A etiqueta teve o bom senso de afastar-se nesse caso, e nem ao menos faz-se preciso levar uma carta de audiência.

   Duas vezes por semana, às quartas-feiras e aos sábados, todo o mundo, sem distinção, é autorizado a atravessar os umbrais da morada imperial. Em S. Cristóvão há tanto eleitos como reclamados.

   Espera-se de pé na galeria, e cada um por sua vez, os brasileiros como os estrangeiros, têm facilidade em aproximar-se do imperador.

   S. M. estende a sua mão àqueles que manifestam o desejo de beijá-la, e escuta todas as comunicações que lhe são feitas, com delicada atenção. A galeria de S. Cristóvão e a ausência do cerimonial fizeram-me naturalmente pensar no carvalho de Vincennes, a cuja sombra S. Luiz fazia justiça. ”(...)
(Charles Expilly, MULHERES E COSTUMES DO BRASIL, Tradução, Prefacio e Notas de Gastão Penalva, pags. 24 e 25, São Paulo-1935.)



                                         - ROTEIRO


O FORTE DO MAR – (Batuque)                                 Cd:  Boa Viagem    (2013)


RUA DA FESTA – (Cucumbi)                                   Cd:    Rua da Festa     (2010)


A ILHA – (Samba-Jongo)                                           Cd:    Folha da Mata   (2012)





arquivo particular
Cd Boa Viagem
arquivo particular
Cd Rua da Festa


arquivo particular
Cd A Folha da Mata


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segunda-feira, 23 de junho de 2014

FESTEJAMOS AS FOLIAS E RITMIAS !!!




Arquivo particular



BRASILIANA - (...) “De Lisboa gabava-se Fleckno à Mademoiselle de Beauvais que já se podia considerar viajante intercontinental. Estivera em terras da Ásia. E nas cimereas plagas. Faltavam-lhe as da África e América, para contentar urna vaidadezinha assaz infantil.

  Não tardaria que a satisfizesse. Impressões de Lisboa nenhuma nos inculca. Elogios elevados faz contudo ao Príncipe do Brasil, o malogrado adolescente discípulo de Antônio Vieira, "príncipe alto e esguio, de grandes esperanças, espírito, coragem e instrução".

   Pouco depois anunciava Fleckno à Mademoiselle de Beauvais que ia partir para a África e o Brasil, a ver areais na primeira e florestas no segundo.

   Não só aprovara D. João IV tal propósito como lhe mandara dar duzentas coroas de aiuta de custa. Instigara ao jesuíta a ideia de tal jornada o desespero de conhecer "novos céus e novas terras, a curiosidade de atravessar a Equinocial e ver as raridades do Brasil encontradas em Lisboa".
Estava no Tejo, de verga d'alto, uma das frotas do Brasil. Bela ocasião para visitar a África e a América!

   Assim, apressou-se em aceitar o convite do nosso famoso Salvador Correia de Sá e Benevides, General daquela esquadra. Partiu pois para os mares equinociais e as terras selvagens do outro hemisfério.

   Largou Salvador de Lisboa, a 15 de agosto de 1647, chegando ao Rio a 16 de janeiro de 1648.(...)

(...) À tarde chegaram os pilotos a fim de conduzir-nos para dentro da baía; ancoramos então sob a leve brisa que toda a noite sopra do mar e toda a manhã da terra.

   Entramos na baía por entre dois rochedos possantes, distantes um do outro de algumas milhas (um, pela sua forma, é denominado o Pão de Açúcar). Ao avançarmos, passando algumas milhas além do forte que defende a barra, deparou-se-nos a mais sedutora paisagem do mundo, o Lago do Rio, de umas vinte e tantas milhas de extensão, todo salpicado de ilhas verdejantes, algumas de uma milha, outras mais, outras menos, e a cidade ereta à esquerda, umas três milhas além do forte, num sítio onde a baía oferece segurança a muitos milhares de naus.

   Ao desembarcar, encontrei cômodos para mim arrumados pelos padres da Companhia, com dois molatos (sic) ou mestiços de negros para servir-me, com a minha dieta preparada nas suas próprias cozinhas próximas à minha morada.

   Tudo isto não sei se por ordem do Rei ou recomendação do Governador (que viera conosco) ou se graças à caridade dos bons padres; o certo é que fui tão extraordinariamente acomodado, como por dinheiro algum poderia pagá-lo, pois aqui não existem, como em nossa terra, hospedarias ou albergues. Os que frequentam estas paragens são os mercadores, hospedados pelos seus correspondentes ou marinheiros, que permanecem a bordo, homem algum havendo ainda empreendido tal travessia movido pela simples curiosidade.”(...)
(Afonso de E. Taunay, VISITANTES DO BRASIL COLONIAL, (Séculos XVI – XVIII), pags. 50 e 51, 65 e 66, São Paulo – 1933).

                                        - ROTEIRO


ESTRADA DA BOIADA – (Xote)                                Cd:   Fonte Nova     (1997)

NAMORO NO MATO – (Miudinho)                            Cd:   Cisca – Fogo    (1996)


DEBAIXO DA PALMEIRA – (Lundu)                         Cd:   Na Boca do Povo   (1995)



arquivo particular
Cd Fonte Nova
Arquivo particular
Cd Cisca Fogo
  
Arquivo particular
Cd Na Boca do Povo



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sábado, 14 de junho de 2014

UM BRINDE AO FOLCLORE


Aos amigos nossas felicitações. Mais uma vez a Mala do Folclore nos chama e apresenta mais três deliciosas folias do cancioneiro folclórico do Brasil. Seguimos adiante apresentando nosso roteiro em destaque nas Audições do DUO NATIVO Ana Maria & Matias Moreno.



Arquivo particular
Cd Brasiliana



Brasiliana – (...) “Porcos em abundância, carneiros em rebanho, aves de toda espécie era do que dispúnhamos. Continuamente, vivíamos em festa, pois nem a música nos faltou aos divertimentos.

                         Contávamos, na maruja, além de excelente par de trombeteiros, alguns violeiros, ao som de cujos instrumentos dançavam, com frequência e grande satisfação, os passageiros.

                          Assim, dormindo, comendo, bebendo e folgando, fizemos esta viagem, a salvo de tempestades, livres de piratas e inimigos até a altura do Cabo de Santo Agostinho, onde avistamos terra e três ou quatro veleiros holandeses de Pernambuco”. (...)
(Afonso de E. Taunay, VISITANTES DO BRASIL COLONIAL (Século XVI-XVIII), pags. 57 e 58, São Paulo – 1938).      


                                             - Roteiro - 
              

BATE-PÉ – (Bate-Pé)                        -             Cd:  Bate-Pé      (2004)

RODA DE SAMBA – (Batuque)        -             Cd:  Villa Velha  (2002)

COCOBOCÓ – (Toré)                      -             Cd:  Lua Cheia    (1998)  




Arquivo particular
Cd Bate Pé
 
Arquivo particular
Cd Villa Velha

Arquivo particular
Cd Lua Cheia


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sábado, 7 de junho de 2014

Mala do Folclore traz a BRASILIANA!


Nesse momento estamos felizes em vos apresentar o nosso trabalho, compilado  nesta obra Brasiliana. Nele reunimos 11 cd's os quais suas folias e ritmias fazem parte do cancioneiro popular. 

Arquivo pessoal



Brasiliana – São ritmos bárbaros do Brasil Colonial e Imperial, dentro da Cosmovisão Luso-Afro-Ameríndio que tem como ponto alto a exaltação das danças, bailados, folguedos e ritmias primitivas brasileiras.

                   Iremos nos reportar agora sobre o nosso "Roteiro Musical" que apresentamos para o publico que nos acompanha nesses anos de atividades litero musical nativa.

                   Hoje falaremos de duas Canções do nosso "Recital" e dos Cd’s em que estão inseridas:

                                        
                                                          Roteiro.

O VAPOR – (Samba-Baihano)        -             Cd: Na Boca do Povo (1995)


MACULÊLÊ – (Samba de Maculêlê)     -      Cd: Maré Alta  (2005)



Cd Na Boca do Povo
Cd Maré Alta



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domingo, 1 de junho de 2014

BRASIL!!!

CAMINHOS LEVAM A BRASILIANA

Aqui estamos e, de fato, fizemos Boa Viagem entre os recortes das Folias e Ritmias do cancioneiro do Brasil. È isso meus amigos, traçamos uma rota e desenhamos nosso mapa. Estamos nos despedindo e a Mala do Folclore nos brinda com os ritmos Toré, Miudinho e Cantiga.


https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&docid=iOgxWkuWjZF-tM&tbnid=wynCYJ_iZ_L4WM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fmodaaocubo.blogspot.com%2F2010%2F03%2Fjean-baptiste-debret.html&ei=JI6LU7TkOc6BqgbA-YGgDA&bvm=bv.67720277,d.aWw&psig=AFQjCNE_jlXr7iRzMVE-5gOBqErV2AlbIA&ust=1401741215918208
Debret



TORÉ – Retumba a Festa na taba dos Araguaias. As fogueiras circulam a vasta Ocara e derramam no seio da noite escura as chamas da alegria. Toda a tarde o Trocano reboou chamando os guerreiros das outras tabas á grande taba do chefe. Era a Festa guerreira de Jaguaré, filho de Camacan, o maior chefe dos Araguaias. No fundo da Ocara preside o conselho dos anciões, que decide da paz ou da guerra e governa a valente nação. Os anciões sentados no longo jirau contemplam taciturnos a geração de guerreiros que eles ensinaram a combater, e tem saudades da passada glória. Suspenso em frente deles está o grande arco da nação Araguaia, ornado nas pontas das penas vermelhas da arara. É a insígnia do chefe dos guerreiros, a qual Camacan, pai de Jaguaré, conquistou na mocidade e ainda a conserva, pois ninguém ousa disputá-la. Ei-lo o velho chefe, embaixo do arco que sua mão tantas vezes brandiu na guerra. Em pé, arrimado ao invencível tacape. Ele dirige a Festa. De um e outro lado da vasta Ocara está a multidão dos guerreiro colocados por sua ordem: primeiro os chefes das tabas; depois os varões; por último os moços guerreiros. Vem depois os jovens caçadores que já deixaram A oca materna e estão impacientes de ganhar por suas proezas a honra de serem admitidos entre os guerreiros. Mas para isso tem de passar pelas provas e sua juventude não lhes consente ainda a robustez que tamanho esforço demanda. Todos invejam a glória de Jaguaré que ontem era o primeiro entre eles, e hoje ali esta disputando a fama aos mais valente guerreiros. Por detrás da estacada apinham-se as mulheres, que se segundo o rito pátrio não podem ser admitidas nas Festas guerreiras. De longe acompanham silenciosas com os olhos, as velhas aos filhos, as esposas aos seus guerreiros e as virgens aos noivos. Exultam quando ouvem celebrar as façanhas dos seus; mas não ousam murmurar uma palavra. Entre elas está Jandira, a doce virgem, cujos negros olhos não se cansam de admirar Jaguaré, seu futuro senhor. Já lhe tarda o momento de ver aclamar guerreiro ao jovem caçador, para ter a felicidade de servi-lo como escrava na paz, e acompanhá-la como esposa ao combate.
(José de Alencar, UBIRAJARA, “Lenda Tupi”, cap.II, O Guerreiro, pags. 36 a 38, Rio de Janeiro-1874).



MIUDINHO – Embora não haja uma descrição detalhada de como o Samba-Divertimento praticado na sala de jantar na casa de Tia Ciata, dados que emergem aqui e ali nos testemunhos existentes corroboram a hipótese de que se tratava de um tipo de Samba-de-Umbigada. O fato de que as testemunhas oponham, no interior do Samba-Festa, o Samba-Divertimento ao Baile, é um desses dados, pois vimos em capitulo anterior que o termo foi freqüentemente contra posto a outros designava Danças de Umbigada. Nos depoimentos recolhidos por Moura, há outras indicações que fazem pensar nestas últimas: por exemplo, alusões á roda e ás palmas dos assistentes. Outro dado é o apego que os participantes demonstrava a suas raízes baianas, vista a importância do Samba-de-Umbigada na Bahia, conforme as descrições de Carneiro e Waddey entre outros. Parece legitimo supor que entre os vários laços que este grupo manteve com sua terra de origem (religião, festejos, culinária), estava também o Samba tal como era praticado lá. Mais ainda, mais importantes pra corroborar a hipótese em questão são as poucas descrições coreográficas que nos chegaram daquelas festas. 
                       Assim, uma testemunha diz que Tia Ciata “levava meia hora fazendo Miudinho na roda”. O Miudinho, na definição de Renato Almeida, “É um dos passos do Samba Baiano. Eu mesmo tive ocasião de ver, na Bahia, as mulheres o dançarem em Sambas-de-Roda”. Lili Jumbemba, neta de Tia Ciata, nascida em l885, lembra que nos Sambas da sua avó sabia “Sambar direitinho... arrastar graciosamente as chinelinhas na ponta do pé e no meio de uma roda”. Compara-se com o que diz Gilberto Freyre sobre o Samba Rural em Pernambuco no tempo da escravidão: “as mulatas com muito jogo de quadris..., entravam num sapatear lúbrico e quase sem fim, com as chinelinhas arrebitadas na ponta dos pés”. E ácrescenta Donga: “formava-se uma roda... no centro, as pessoas sapateavam... dançava um de cada vez, com entusiasmo, fazendo Samba nos pés”. A coreografia era pois executada no meio da roda, e seu passo característico era o gracioso arrastar dos pés conhecido como Sapateado ou Miudinho: na descrição de Waddey, “os rápidos e quase imperceptíveis movimentos do pé (o “Sapateado”, também dito “Repinicado”,”Recorte” ou “Miudinho”), que são quase os únicos movimentos corporais na coreografia do Samba no estilo do recôncavo, quando executado na maneira devida”. João da Bahiana nos dá outros elementos: “nós tirávamos um verso e o pessoal sambava, um de cada vez... um saía para tirar o outro. Se fosse a “liso” era só umbigada, mas se fosse para pegar “duro” já era capoeiragem.” A maneira como o solista da coreografia escolhe o parceiro que vai substituí-lo cria a subdivisão em “Samba Liso” (com Umbigada) e “Samba Duro” (ou Batucada, no qual, como vimos, a Umbigada é substituída pela Pernada).
                      Todos esses elementos nos permitem agora compreender melhor os dois sentidos em que a palavra Samba aparece nos testemunhos sobre as Festas de Tia Ciata. No sentido mais geral, ela designa a própria festa. É claro que nem todas as festas que na época se realizavam no Rio de Janeiro faziam jus á denominação de Samba; Pixinguinha fala de “Festas de Pretos” e Donga de “Festas das Bahianas”. Alargando um pouco mais a idéia, podemos chegar á de “Festa na Casa de Pessoas do Povo”, e assim voltamos a encontrar o conceito de Samba expresso por Alvarenga que havia sido discutido atrás: “qualquer baile popular etc.”
                     No sentido mais restrito, porém. Ela designa um dos divertimentos que tinham lugar nas festas dos baianos transplantados para o Rio de Janeiro. Tratava-se de um Samba-de-Umbigo conforme a definição de Carneiro exposta antes. Em que os Cantos e as Danças apresentavam certas marcas de identidades afro-brasileiras. Ele era praticado na sala de jantar, região da casa caracterizada por um grau maior de intimidade e pelo acesso mais restrito.
(Carlos Sandroni, FEITIÇO DECENTE, “Transformações do Samba no Rio de Janeiro (l917-1933)” pags. 108 e 109, Rio de Janeiro – 2002).



arquivo pessoal
Foto by Matias Moreno



CANTIGA – (...) “Nós escutamos Cânticos e Sambas nos distritos de Gameleira, Jaguará e São José. Os motivos dos versos são o espelho da vida que o caatigueiro leva. No lirismo, no amor, na saudade e no trabalho, nos festejos e todas as espécies de atividades. O sertanejo canta trabalhando, especialmente nas plantações; nos adjutórios, que denominavam “Roubar o Boi”, quando rompia a madrugada. fazendo farinha, na novena; na famosa e alegre “Bata do Feijão”; nas sentinelas; nos enterros de anjinhos, em pungentes, desoladores momentos; em procissões e missas. Muitas vezes as Cantigas eram chistosas, maliciosas e se prendiam a acontecimentos locais, havendo ligeiras modificações de região para região. Ainda serve de motivo, o modo de se processar o trabalho, o cuidado com as filhas solteiras, o respeito para com os patrões e com suas sinhazinhas, com as vaquejadas. Contando farromba, com motivações adequadas, muitas vezes aproveitavam um tema pra revelar acontecimentos da esfera do próprio governo, que respeitavam inclusive, incluíam notícias vindas de grandes distâncias, citando nomes internacionais. Satíricas algumas, manhosas e sagazes outras, todas simples e modestas.(...)
               (...) Tendo o cavalo, nos dias de festa pode ir ao adro, montado, a mulher seguindo-o a pé, com os filhos nos braços. Mas ali ele está pronto para tocar a sanfona, o pandeiro e a viola, cantando em qualquer voz um improvisado Samba, no calor belíssimo de suas músicas. Canta as glórias e os sofrimentos. (...)
              (...) As mulheres, mais do que os homens, cantavam ao lavar a roupa, cozinhar, ninar o filho, contanto que cantassem. Sempre lhes chegavam fatos novos como o surgimento das marinetes. Aproveitavam e juntavam-nos ao seu acervo musical. Sempre consideramos essas Canções muito belas, na singeleza do nordeste.
                     Pelo que sabemos, no alto sertão os elementos musicais antigos estão praticamente intactos e poderão ser ainda captados, tão afinados como os originais, a televisão de quando em vez apresenta algumas músicas deturpadas. Um Samba genuíno é qualquer coisa de notável. Penetra-nos pelo olfato o aroma do velame, do alecrim, da caatinga de porco. Etc.”(...)
(Gastão Sampaio, FEIRA DE SANTANA E O VALE DO JACUIPE, pags. 108 a 109, Salvador – 1977).    



  
CANTIGA – (...) “O cumpadre Serapião de Antão, chegado há muito do Prado e que faz serestas nos terreiros das fazendas com o seu violão, é música simples e cheia de sentimentos... desabafos do coração; ternura.
                               Numa noite de dezembro
                               No Natal ainda me alembro
                               Me pediram prá cantar...
           E música é o caminhar faceiro da cabocla com os pés no chão brincando de chutar o arenoso das estradas, levando as tamanquinhas penduradas no dedo, para descansar os pés no longo caminhar, e não gastar a sola dos calçados de usar nas ruas da cidade... barulheando compassado sobre as pedras do calçamento.                                                                 
          O ruído baixinho que faz as águas do rio escorregando no leito, ruidosa sobre os seixos e nos desvios das barreiras de pedras, e quase em surdina quando desliza tranqüila sobre as passagens do leito que é areia, deixando ver os peixinhos que transam sem destino brincando de nadar; transparecendência; canto da alma do rio.
         O canto triste da siriema ao cair da tarde, que vai esfriando, á procura do companheiro retardatário, é musica de solidão... cheia de amor e apreensão: - “o que fez o homem hoje?”.
         As rezas e as Cantigas das rezadeiras, nas novenas de fazer pedidos e agradecer graças recebidas; dos cochichos reservados e das promessas das devotas procurando fazer algum acordo com o Santo da sua devoção; tudo isto fica em mim gravado em forma de melodia ou poesia da minha cidade encanto... sinto que sou mimimilionário; possuo tanta coisa... (...).
        (...) O beijo suave da brisa é melodia nas folhas irrequietas dos eucaliptos, dos bambuais, dos pinheiros e das casuarinas... também é melodia agressiva a defesa destas árvores e das palmas dos coqueiros, das palmeiras, das bananeiras. Quando o vento sopra forte de virada, sibilando e envergandando as mesmas sem piedade e avisando que vem vindo borrasca... a tempestade não tarda a chegar; é melodia agressiva e vibrante. – “O tempo virou... é vento norte soprando forte; vai cair toró”. (“...)”.
(Renato Passos da Silva Pinto Filho, CRUZ DAS ALMAS DOS MEUS BONS TEMPOS, pags. 365 e 366, Salvador – 1984).



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