segunda-feira, 17 de março de 2014

Recôncavo Negro, Brasil Colonial

Rua da Festa!

"O Recôncavo baiano é a região geográfica localizada em torno da Baía de Todos-os-Santos, abrangendo não só o litoral mas também toda a região do interior circundante à Baía.
Geograficamente, o Recôncavo inclui a Região Metropolitana de Salvador, onde está a capital do estado da Bahia, Salvador e outras cidades circundantes à Baía de Todos os Santos, entre elas, as de maior representatividade histórica e econômica são: Santo Antônio de Jesus, Candeias, São Francisco do Conde, Madre de Deus, Santo Amaro,Cachoeira, São Félix, Maragojipe e Cruz das Almas. Entretanto, o termo Recôncavo é constantemente utilizado para referir-se às cidades próximas à Baía de Todos os Santos, limitando-se ao interior, ou seja, excetuando-se a capital do estado, Salvador."
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rec%C3%B4ncavo_baiano ).

Estamos em Terras Brasileiras, cidades berço do Recôncavo Baiano. Registros no Rua da Festa, em nossas caminhadas com a Mala do Folclore descobrimos os ritmos Cucumbí, Bendeguê, Bendito-Caboclo.
                         


Arquivo pessoal.




Cucumbi – Descendo a Rua do Rosário, pela altura da dos Latoeiros, caminho do Terreiro do Paço, a tropilha folgaz dos negros vem cantando, a dançar, ao som de adufos, caxambus, xequerês, marimbas e agogôs, seguida, açulada, aplaudida pelo poviléu gárrulo e jovial que com ela faz mescla e se expande feliz. Nunca se viu na rua tanto negro! São negros de todas as castas e todas as ralés, despejados pelas vielas e alfurjas em redor, atraídos pelo engodo da folia: gongos e mocambiques, monjolos e minas, quiloas e benguelas, cabindas e rebolas, de envoltas com mulatos de capote, com ciganos e moleques, a turbamulta dos quebra-esquinas, escória das ruas; flor da gentalha e nata dos amigos do banzé. O reboliço cresce, referve, explode, continua... nos interiores das casas, a famulagem, ouvindo fora os ruídos das musicas, desencabrestada e cadente, abandona o trabalho, deserta das cozinhas, vara corredores, derribando móveis, batendo portas, saltando janelas, caindo na rua... não há escravo que atenda amo, que obedeça a senhor nesse minuto de desabafo e embriaguês. É uma loucura! O que ele quer. O negro, é aturdir-se na folia, mergulhar na folgança, integralizar-se no ritmo do Samba, fazendo um pião no tronco, e das pernas dois molambos, que se confundem em delírio coreográfico. É um desengonço macabro, em que a gente sente o negro desanatomizar-se todo, desarticulando braço, cabeça, pé, perna, pescoço e mão. Isso tudo aos guinchos, aos assobios, aos berros, aos áia! Oia! Eia!
São as Congadas...
(Luis Edmundo (L.E. de Melo Pereira da Costa). O RIO DE JANEIRO NO TEMPO DOS VICE-REIS 1763-1808, Pag. 185, Rio de Janeiro – 1932.
   
  
Cucumbi - O Cucumbi não passava de uma recordação das festas africanas, é certo mas foi-me impossível conhecer a significação própria do vocábulo. Compunha-se de numeroso agrupamento: uns armados de arco e flecha, capacete, braços, pernas e cintura enfeitados de penas, saiote e camisa encarnada, corais, missangas e dentes de animais no pescoço, à feição indígena.

Outros, porém, trajavam corpete de fazenda de cor, saieta de cetim ou cambraia, com enfeites de velbutina azul e listras brancas, num estilo bizarro, acomodado ao divertimento.

Os instrumentos consistiam em pandeiros, ganzás, checherés ou chocalhos, tamborins marimbas e piano de cuia (cabaça enfeitada com contas).

Os Cucumbis ensaiavam as suas diversões em determinados pontos, como fosse: largo da Lapinha, Terreiro de Jesus e largo do Teatro, sob as frondosas cajazeiras que aí existiam.

No trajeto iam cantando:
           
Viva nosso rei,
Preto de Benguela
Que casou a princesa
C'o infante de Costela.

Respondia o grupo indígena:

Dem bom, dem bom,
furumaná;
Catulê, caia montrué
Condembá.

Além dos instrumentos acima indicados, certos personagens conduziam os seus grimas os quais no final de cada estrofe se cruzavam dois a dois.

O bi iáiá, o bi ióió,
Saravudim, sarami, saradô.

Ao pronunciarem a silaba dô era o som abafado pelo choque dos grimas, batendo uns de encontro aos outros. Em seguida, davam voltas e trejeitos ao corpo, repetiam o canto e os mesmos movimentos.

Chegados ao ponto determinado, começava a função:

Cum licença auê
Cum licença auê
Cum licença de Zamblapongo,
Cum licença auê.

Em meio da festança, um indígena era acusado de haver enfeitiçado o guia, que devido a essa cirscuntância, se achava em estado mortal.

Discutido o assunto com alacridade, o feiticeiro se entusiasma e canta em tom autoritário:

Tu caté gombé
Tu está gombê.
Chaco chaco,
Mussugaué.
O diá sambambê:
Matê, ô matê ô!
Vida ninguém dá.

Compenetrado do seu valor, e solicitado para mudar de resolução, o feiticeiro se delibera a curar o guia, que simula agonizante.

Para isso, no meio de grande algazarra, toma de uma bolsinha e com ele toca levemente as pernas e os braços do doente, dando movimento desordenado ao corpo, entoando cantigas lúgubres. Ao depor a bolsinha ou contra-feitiço nos lábios do guia, este recobra os sentidos, e todos se entregam às maiores expansões de regozijo. Os nacionais se afeiçoaram tanto ao Cucumbi que conseguiram imitá-lo vantajosamente, intercalando nos cânticos vocábulos da língua vernácula, sem, contudo, desvirtuá-lo.

(Manuel Querino, "CUCUMBIS”. A Tarde. Salvador, 04 de julho de 1957).


http://fortesantoantonio.blogspot.com.br/.
Carybé




  
Bendenguê – Jongo, dança de negros da costa, ao som da puíta e cantigas africanas, espécie de Bangulê.
(Macedo Soares)
  


Bendito-Caboclo – Canto religioso com que são acompanhadas as procissões e, outrora, as visitas do santíssimo. Denomina o gênero o uso da palavra Bendito, iniciando o canto, uníssono

(Luis da Câmara Cascudo, DICIONARIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, pag. 97, Rio de Janeiro – 1954).
  


Bendito-Caboclo - “Há uma certa influência francesa, ou melhor, o aproveitamento dos Benditos franceses, com o popularíssimo Queremos Deus, que é o Nous Voulons Dieu, de F.M. Moreau”.

(Renato Almeida, HISTORIA DA MÚSICA BRASILEIRA, pag. 132).



E assim Amigos da Música Folclórica Brasileira deixamos nossa alegria com vocês e nos encontraremos em breve, com mais pérolas de nosso Povo Brasileiro. E a Mala do Folclore prepara mais novidades. Estamos em nosso endereço sonoro : 

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Arquivo Particular
Foto by Ana Maria











      


            
                                                                                                             
                      




                               


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