Atenção queridos amigos, estamos nos preparando para as boas novas. Velhas novidades que O BAÚ DO FOLCLORE vem nos apresentar, nos acompanhe nas ritmias do nosso ROTEIRO.
BRASILIANA – (...) “Havia lá uma praça
muito grande e no meio da praça um grande pranchão de dez pés em quadro,
pintado e esculpido em relevo, figurando uma Cidade murada, com a sua cerca e
uma porta. Nessa porta havia duas altíssimas torres com as suas janelas, as
torres com portas que se defrontavam, cada porta com duas colunas. Toda esta
obra era sustentada sobre dois ferocíssimos leões que olhavam para trás, como
acautelados um do outro, e a sustinham nos braços e nas garras. Havia no meio
desta praça um buraco por onde deitavam, como oferenda ao sol, a chicha, que é
o vinho que eles bebem, sendo o sol que eles adoram e têm como seu Deus. Era
esse edifício coisa digna de ser vista, admirando-se o Capitão e nós todos de
tão admirável coisa. Perguntou o Capitão a um índio o que era aquilo e que
significava naquela praça, e o índio respondeu que eles são súditos e
tributários das Amazonas, e que não as forneciam senão de penas de papagaios e
guacamaios para forrarem os tetos dos seus oratórios. Que as povoações que eles
tinham eram daquela maneira, conservando-o ali como lembrança e o adoravam como
emblema de sua senhora, que é quem governa toda a terra das ditas mulheres. Encontrou-se
também nessa praça uma casa muito pequena, dentro da qual havia muitas
vestimentas de plumas de diversas cores, que os índios usavam para celebrar as
suas festas e bailar quando se queriam regozijar diante do já referido
pranchão, e ali ofereciam seus sacrifícios com a sua danada intenção. (...)
Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão
de saber que eles são súditos e tributários das Amazonas, e conhecida a nossa
vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós as vimos, que
andavam combatendo diante de todos os índios como capitãs, e lutavam tão
corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, e ao que fugia
diante de nós, o matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.
Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado
e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas
vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez
índios. E em verdade houve uma destas mulheres que meteu um palmo de flecha por
um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins
pareciam porco espinho. Voltando ao nosso propósito e combate, foi Nosso Senhor
servido dar força e coragem aos nossos companheiros, que mataram sete ou oito
destas Amazonas, razão pela qual os índios afrouxaram e foram vencidos e
desbaratados com farto dano de suas pessoas. (...) Perguntou o Capitão como se
chamava o senhor dessa terra, e o índio respondeu que se chamava Couynco, e que
era grande senhor, estendendo-se o seu senhorio até onde estávamos.
Perguntou-lhe o Capitão que mulheres eram aquelas que tinham vindo ajudá-los e
fazer-nos guerra. Disse o índio que eram umas mulheres que residiam no interior,
a umas sete jornadas da costa, e por ser Este senhor Couynco seu súdito, tinham
vindo guardar a costa. (...) Disse o índio que as aldeias eram de pedra e com
portas, e que de uma aldeia a outra iam caminhos cercados de um e outro lado e
de distância em distância com guardas, para que não possa entrar ninguém sem
pagar direitos. (...) Ele disse que estas índias coabitam com índios de tempos
em tempos, e quando lhes vem aquele desejo, juntam grande porção de gente de
guerra e vão fazer guerra a um grande senhor que reside e tem a sua terra junto
à destas mulheres, e à força os trazem às suas terras e os têm consigo o tempo
que lhes agrada, e depois que se acham prenhas os tornam a mandar para a sua
terra sem lhes fazer outro mal; e depois quando vem o tempo de parir, se têm
filho o matam ou o mandam ao pai; se é filha, a criam com grande solenidade e a
educam nas coisas de guerra. Disse mais que entre todas estas mulheres há uma
senhora que domina e tem todas as demais debaixo da sua mão e jurisdição, a qual
senhora se chama Conhorí. Disse que há lá imensa riqueza de ouro e prata, e
todas as senhoras principais e de maneira possuem um serviço todo de ouro ou
prata, e que as mulheres plebéias se servem em vasilhas de pau, exceto as que
vão ao fogo, que são de barro. Disse que na capital e principal Cidade, onde
reside a senhora, há cinco casas muito grandes, que são oratórios e casas
dedicadas ao sol, as quais são por elas chamadas caranaí, e que estas casas são
assoalhadas no solo e até meia altura e que os tetos são forrados de pinturas
de diversas cores, que nestas casas tem elas ídolos de ouro e prata em figura
de mulheres, e muitos objetos de ouro e prata para o serviço do sol. Andam
vestidas de finíssima roupa de lã, porque há nessa terra muitas ovelhas das do
Perú. Seu trajar é formado por umas mantas apertadas dos peitos para baixo, o
busto descoberto, e um como manto, atado adiante por uns cordões. Trazem os
cabelos soltos até ao chão e postas na cabeça coroas de ouro, da largura de
dois dedos”. (...)
(Frei Gaspar de Carvajal, RELATÓRIO DO NOVO DESCOBRIMENTO DO
FAMOSO RIO GRANDE PELO CAPITÃO FRANCISCO DE ORELLANA (1542), São Paulo – 1941).
- ROTEIRO -
A
CONGADA – (Congada) Cd : A Folha da Mata (2012)
O
SOL RAIOU – (Partido Alto) Cd : Na Boca do
Povo (1995)
Cd Folha da Mata |
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