segunda-feira, 3 de julho de 2017

Festa na Bahia "Dois de Julho"






Carybé  "Batalha de Pirajá"



                                      O CORNETEIRO DE PIRAJÁ


Quando se proclamou a independência foi a Bahia que mais custou a sair do jugo de Portugal.
O general Madeira de Melo não quis obedecer ao governo brasileiro. Para ele o Brasil era uma propriedade dos portugueses e, portanto, aos por­tugueses devia continuar sujeito, sem nenhum direito de libertar-se.

E comandando grandes forças armadas, compostas de gente portuguesa, tomou conta da província e não consentiu que os baianos gozassem, como os outros brasileiros, da independência proclamada.

Aquilo feriu a fundo o coração dos patriotas da Bahia. Era pela força que Madeira queria impor o jugo de Portugal, só pela força a província proclamaria a sua liberdade.

E a Bahia inteira, a Bahia brasileira, pegou em armas para bater-se contra os inimigos da independência.

Foram penosos os primeiros encontros. Madeira é que tinha armas, munições, navios e dinheiro que lhe vinham constantemente de Portugal.
O governo brasileiro estava no momento cheio de dificuldades e quase não podia ajudar os patriotas baianos.

Os patriotas baianos, porém, defendiam-se e resistiam como leões.
A melhor maneira de vencer as forças de Madeira era encurralá-las de modo que não pudessem receber auxílios. Para isso os baianos formaram postos de ataque aqui, ali, além, por toda a região que na Bahia se conhece pelo nome de Recôncavo.

Um desses postos, justamente o mais forte deles, o mais destemido, aquele em que se reuniam os mais valentes defensores da terra baiana, era o de Pirajá.

Um dia, quando o general Madeira abriu os olhos, Pirajá estava embaraçando os passos do seu exército. O general não podia receber víveres e reforços: tinham-lhe sido tomados os caminhos de terra e mar.

Era necessário, portanto, destruir Pirajá o mais de­pressa possível.

E as forças portuguesas atiram-se contra o posto brasileiro.
É a 8 de novembro de 1822, antes de raiar a manhã.

Deve ser segura, infalível a vitória. As tropas de Madeira, além de bem armadas e mais numerosas, vão fazer o ataque de surpresa.

Está ainda escuro quando os batalhões inimigos de­sembarcam cautelosamente nas praias de Itacaranhas e Plataforma, ao mesmo tempo que, pelos outros lados, o grosso do exército avança rapidamente.

Quando as sentinelas baianas, colocadas em Coqueiro e Bate-Folha, percebem o avanço, não é mais possível fazer nada.

É ao clarear do dia que pipocam os primeiros tiros.
Pirajá inteiro ergue-se para a peleja.

Começa o combate. Madeira, em pessoa, dirige os seus corpos. O que ele pretende é investir por Itacaranhas para cortar a retaguarda dos brasileiros. Mas os nossos vão resistindo e resistindo heroicamente.

Uma hora inteira de fogo.

O general português, surpreendido com aquela resistência, ordena que novas centenas de soldados avancem. Mas os baianos não se deixam vencer.

Mais uma hora de fogo.
Os portugueses vão pouco a pouco conquistando o terreno.

Barros Falcão, que comanda os nossos, percebe claramente a vitória inevitável do inimigo. Mas é preciso lutar. E luta-se mais uma hora.

Madeira está inquieto com a resistência. Agora ordena a novos corpos que avancem em grandes massas. Mas o fogo das linhas brasileiras não cessa um instante.
Novos corpos investem contra os nossos.   Outra hora de peleja e de fogo.

Havia cinco horas que aquilo durava. Os portugueses tinham ganho tanto terreno que, em poucos momentos, os brasileiros estariam num círculo de balas.

Um minuto mais vai dar-se a ruína completa dos baianos. Não há mais resistência possível. Continuar a luta é sacrificar inutilmente centenas de vidas.

Barros Falcão, de um galope, percebe que chegou o momento de retirar-se. A dois passos está Luís Lopes, o cometa, que ele conservou sempre ao seu lado, esperando aquele instante desesperador.

—  Toque retirada!   ordena.
O cometa não se move.

—  Toque retirada, já lhe disse!   grita o comandante pela segunda vez.
O cometa vira-lhe as costas.

Barros Falcão avança de espada em punho para obrigar o insubordinado a cumprir as suas ordens, mas, nesse momento, Luís Lopes cola a cometa à boca e claros sons metálicos retinem nos ares.

O comandante agita-se, surpreendido. — Que é isso?  que é isso?

Não é o sinal de retirada que está ouvindo. É que a corneta está soprando loucamente no espaço é o sinal de “avançar cavalaria e degolar”.

Pararam todos, alarmados: o comandante, os oficiais, os soldados. Que cavalaria é aquela que aquele doido está mandando avançar?

No exército português é brutal a surpresa. É a confusão. E o pavor.

É a debandada louca.

Fogem todos alucinadamente daquela cavalaria que não existe.

Fogem todos, todos feridos por aquele toque de corneta que vale mais do que cinco horas de tiroteio, mais do que a própria voz dos canhões.

(Viriato Correia, MEU TORRÃO: Contos da Minha Pátria, Rio de Janeiro, 1953). 



                                                Carybé  "Batalha de Pirajá"


                         
                                                        Carybé  "Carnaval"

"As festas duravam uma semana. Começavam logo após o São João com os Bandos Anunciadores e tinham o seu apogeu na véspera do Dois de Julho quando a cidade se iluminava com as chamadas lanternas, espécie de gambiarras de candieiros e o povo percorria as ruas portando archotes. As tochas, os fogos de artifício, os bailes de mascarados no Teatro São João e em residências particulares e os arcos triunfais confeccionados com palmeiras e expostos em vários pontos de Salvador davam o tom do espetáculo."

"As festas do Dois de Julho no século XIX eram bem diferentes do que são hoje, mas sempre com expressiva participação popular. E o negro foi incorporado no préstito do desfile, mas como coadjuvante, através dos grupos de cocumbis, que um dia inspiraram os afoxés, com as suas danças marcadas por batucadas e que naquele tempo divertiam a elite baiana, com a sua ginga “extravagante”. Era um aspecto carnavalesco do desfile que incluía carroças puxadas por seis bois contendo alimentos para distribuição nas prisões."

(Nelson Cadena)




                                           
                                       Villa Velha (Chula). Àlbum: Villa Velha 

                                       
                                                             

                                                  - Salão de Audição -
                                          
                                                                            
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                                Até breve... amigos !!! e obrigado pela companhia...
                                                         



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