domingo, 18 de maio de 2014

Momentos de Silêncio...

Com todo o respeito aos nossos acompanhantes, nessa viagem, pela Música Folclórica Brasileira. Permita-nos o silêncio encantador que esta viagem nos proporciona, e que a Mala do Folclore não deixa de surpreender. Embala-nos agora os ritmos Canção-Caipira, Chula e Toada. Boa Viagem Amigos! .

arquivo pessoal


Ficha Técnica :

Ao Canto e Afoxé : Ana Maria
Ao Canto e Violão : Matias Moreno
Autor e Compositor : Matias Moreno

Viola e Violão Bordão : Ian Ferreira
Percussão e Ritmo : Bidio
Violino : Mateus Costa
Bandolim : Robertinho Lago
Cavaquinho e Ritmo : Pedro Patrocinio
Pandeiro : Breno Tsocas
Curumim : Filipe Costa

Mixagem e Gravação : Pedro Patrocínio
Capa : Mateus Costa
Foto : André Simões



CANÇÃO-CAIPIRA –(“...)” Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles. Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado.
             E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de
prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima. E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.
           E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. Elevaram dali. (...) Nesse dia, enquanto ali andavam, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que nós seus. Se lhes a gente acenava, se queriam vir às naus, aprontavam-se logo para isso, de modo tal, que se os convidáramos a todos, todos vieram “(...).
(Pero Vaz de Caminha, CARTA A EL-REI DOM MANOEL, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. deste Porto Seguro, de Vossa Ilha de Vera Cruz).



CHULA – Em Tocos, um esquecido povoado pertencente ao município de Antonio Cardoso, vizinho da cidade de Feira de Santana. No Agreste, quem é de Samba, do Candomblé, quem reza para Santo Antonio, São Cosme ou Santa Barbara conhece Luisa Pereira Brandão. Com quase 80 anos como Dona Zinhá. Além disso, Dona Zinha é uma Parteira respeitada, “Mãe de Embigo” de muita gente de Tocos, que vive em casa rodeada por animais domésticos. Desconfiada, ela fala pouco, ao mesmo tempo em que, numa conversa entrecortada, comenta sua vida pessoal, fala do seu apego e das manias de seus bichos de estimação, revela uma coisa ou outra que sabe do Samba e do Candomblé.
                        Para Dona Zinha, o Samba veio com os Africanos mais antigo, escravizados. Eles teriam deixado de herança o “Samba Nagô” tocado nos Terreiros com tambor, o “Samba Brasileiro” ou de “Pandeiro em Pé”, tocado nas palmas, no pandeiro e viola,”é o Corrido, a Chula, o Côco”. Além de um vasto repertório de Chulas, Relativos, Corridos e Rezas, Dona Zinha pega firme no tambor e no pandeiro.
                        Uma das especialidades é o “Licutixo”, uma modalidade poética do Samba desta região que consiste na arte de cantar uma série de versos curtos, ritmados e muito ligeiros, contando uma pequena historia que deveria terminar com desfecho inesperado ou engraçado.
(Ari Lima e Katharina Döring, MESTRES DA CHULA, “Região do Semi-Árido”, Salvador-2009).




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Tarsila do Amaral


TOADA - Numa das vezes em que estive em Linhares – lá pelo mês de junho de 1943 – conheci o canoeiro Ubaldo Costa Porto, pequeno de corpo, cabelo preto “escorrido”, tipo comum do caboclo do meu rio Doce. E foi durante a travessia de canoa que o Ubaldo se revelou precioso homem-folk, conversador e contador sem meias palavras. Dele então consegui recolher – com o pouco de papel de notas de que dispunha – uma série de Trovas Populares, três Toadas curiosas e mais uma do cangaceiro “Cirino”, duas “Rodas Pontiadas” e algumas Sextilhas.
Vamos ver aqui, por ora, apenas as Cantigas e a Roda Pontiada, valioso material que o velho canoeiro (já falecido) nos deu, ao som dos remos que cortavam as águas do grande rio.
Nas Toadas cantam-se Trovas Soltas, a elas acrescentando-se um dístico que se repete no final das quadras, à Moda de refrão ou estribilho. Assim:

Eu bem falei com você
Que não panhasse sereno.
Você temô, apanhô,
Agora ‘stá padeceno.
Eu pudesse te levava
Pra minha terra, moreeeeena.

Arruda também se muda
De longe para o deserto.
De longe também se ama
Quem não pode amá de perto.
Eu pudesse te levava
Pra minha terra, moreeeeena.

Às vezes – como nesta outra Toada – ela forma inicialmente um todo em sextilha:

O cavalo da Chiquinha
Tem um andá por natureza:
Uma mão pisa firme,
A otra não tem firmeza,
O cavalo da Chiquinha
É o suco da beleza!

A seguir, encaixa-se a Trova, servindo de estribilho os dois versos finais anteriores:

Tô cantando e tô chorando
Regalo que não mereço.
Se eu canto é porque quero,
Chorando porque padeço.
O cavalo da Chiquinha
É o suco da beleza!

Da mesma forma, esta outra Toada:

Hoje foi que eu soube
Que Rosa vai se mudá.
Eu sem a Rosa não fico
Morando neste lugá.
Adeus, Rosa branca,
Que eu quero te namorá…

Lenço branco – apartamento,
Digo isso é porque sei:
Já me vi apartado
Pelo um lenço branco que dei.
Adeus, Rosa branca,
Que eu quero te namorá…

Quanto à denominação dessas Cantigas, o próprio Ubaldo nos disse que eram Toadas, o que coincide com o que, sobre o assunto, nos informa Oneyda Alvarenga: a Toada é
empregada mais no sentido genérico, corrente na língua (o mesmo de Moda), ou como designação de qualquer canto sem destinação imediata. De qualquer modo parece que a Toada não tem características fixas que irmanem todas as suas manifestações. O que se poderá dizer para defini-la é apenas o seguinte: com raras exceções, seus textos são curtos – amorosos, líricos, cômicos – e fogem à forma romanceada, sendo formalmente de estrofe e refrão.
Musicalmente – continua a folc-musicista de São Paulo, “as Toadas do Centro e Sul se irmanam pela melódica simples (...), por um ar muito igual de melancolia dolente” (Música Popular Brasileira, 1950, p. 256).
Lembro-me vagamente da melodia das Toadas do velho Ubaldo, mas guardo ainda o seu tom dolente e triste, aliás expresso pela reiteração das vogais em fim de verso.
Roda Pontiada – disse-me o canoeiro do rio Doce – é assim chamada porque tocada na viola com a ponta do dedo. E o exemplo que me deu, então, foi este:

Eu não como,
Eu não bebo,
Eu não durmo.
Iaiá,
Somente só imaginá – ei!
Mas vô dexá de ciúme
Pra vivê sossegado – uai!…
Adeus, pancadão da soidade,
Iaiá,
Eu vô mudá desse lugá – ei!…

A distribuição e encadeamento desses versos simples me fazem lembrar a explicação que Anicondes – poeta caboclo de Goiás – deu ao folclorista José A. Teixeira. À pergunta: “Como é que você compõe a Moda?” – respondeu o vate popular: “A gente inventa ca viola. Repinica nela e vai cantanu, siguinu a musga, consoante o assunto dá. O dispois, repete até firmá…”
Assim me pareceram esses versos do velho Ubaldo – homem-folk do meu rio Doce, infelizmente falecido. Com ele lá se extinguiu preciosa fonte de informações, perdidas para sempre.
(Guilherme Santos Neves, TOADAS E CANTIGAS DO RIO DOCE, A Gazeta, 17.07.1960 - Vitoria do Espírito Santo.)



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